terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Fragmentos 6

"Retirado en la paz de estos desiertos,
com pocos, pero doctos, libros juntos,
vivo en conversación com los difuntos
y escucho com mis ojos a los muertos"
Quevedo


Hilário Tácito — Madame Pommery

Natural da Botocúndia, recomenda a desbotucundização do Brasil.

Hilário Tácito, pseudônimo de José Maria de Toledo Malta, era engenheiro civil, diplomado em 1908, construiu uma novela centrada em um bordel no centro de São Paulo, que recebia clientes das fazendas do interior em busca de divertimento na capital. Esta excelente sátira foi publicada pela editora de Lobato em 1920.

Pg 52: Mas o que sucede num país novo, onde tudo cresce e se transforma à vista d'olhos, é que nem todas as instituições se podem transformar e crescer a um tempo e harmoniosamente. Umas vão a vapor; outras a juntas de bois. Daí os disparates: sufrágio universal e população de analfabetos; café valorizado e cervejada no alto bordo.

Democracias bagunçais e pelegais.

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Reli Madame Pommery em julho/17. Que beleza de texto. Toledo Malta combina ironia com sarcasmo em uma narrativa elegante e altamente reveladora de nossos traços culturais para a mundanidade hedonista. Minha suspeita de que o pré-modernismo tinha melhores escritores do que os modernistas só não se confirma porque os grandes estilistas estão em todas as épocas, mas não se pode negar que em densidade eles estão muito mais presentes no período que vai da fase final do império até 1922. Nomes como Tobias Barreto, Macedo, do Sobrinho do Meu Tio em diante, passando pelos engenheiros (Carlos Vasconcelos, Alberto Gurgel, Euclydes e Toledo Malta) e o injustiçado Coelho Neto são nomes de uma fulguração narrativa que colocam nossa literatura em um alto patamar de criatividade, malgrado o pouco caso que a sociedade lhe devota.

Nacos:
AU PARADIS RETROUVVÉ – Nome do lupanar de Mme. Pommery.
Peralvilho de letras.
Enxúndia – banha gordura.
Inúteis palanfrórios
Isso não passa de potoca.
Bestunto = cabeça de pouco talento.
Inópia = penúria, falta.
Vinha embiocada, cabisbaixa.
Embiocar = esconder-se de si mesmo, recatar-se. Vestir o bioco, véu que esconde e dá aparência de recato nas mulheres.
Balandraus de menino. (capote ou casaco largo e comprido; vestuário em capuz e mangas largas; lã de carneiro).
Não há descoberta que não traga à baila as questões de atraso e progresso.
“gommeuse cosmopolite” - mundana cosmopolita.

Con arte y con engaño
vivo la mitad del año;
y com engaño y arte
vivo la otra parte.

Nacos:
Gestos mazorrais – grosseiros.
Alapardar – ocultar-se para não ser visto.
Hilariante comparação entre a fixação do homem à terra com as putas aos lupanares.
“Qui addit scientiam, addit et laborem” – Quem promove a ciência, agrega trabalho, no sentido de que a sabedoria é gerada com muito trabalho.
Prolóquio – dito jurídico.
“Qui addit laetitiam, addit et sapentiam” – Quem promove a alegria, promove a sabedoria.
Rascoa – rameira.
“Ornato meretricio, ad capiendas animas”. Ornamento prostituído, para seduzir as almas.
Popolana – mulher do povo.
Discurso sobre o álcool – 90-92
zurrapa
“Res non verba” - fatos, não palavras.
Pululância de micróbios no intestino – água chilra zurrapada.
Loureira – mulher que deseja agradar a todos. Insinuante.
Nem sequer provocaram erupções pruriginosas no pundonor dos moralistas.
Miquelos bêbados que vagabundeavam por betesgas.
Sursum corda – louvação ao alto.
Ingrazéu – de Ingresia – conversa ininteligível.
Barrigadas de riso
“Si bene bibis, male vivis”.
Chico lambisco – foliculário jornalista
Funçanada – tolice, festa ruidosa, patuscada.
Bestunto – cabeça sem talento.
"A nódoa tupinambá que dificultava a entrada do Brasil no mundo civilizado".


Alberto Deodato – Nos Tempos de João Goulart

A sargenteação no interior é mais de meio caminho andado para o êxito na vida política.
Gaúcho de fronteira e revolucionário é pleonasmo.
[Jango] se aboletou no Hotel de Rivera, cuspindo em Livramento da janela do quarto.
Jango, o assustador pg 52.
Monociclo e vaquinha de presépio pg 66
Eu sou durona! Pg 68.
Ladroeira? Não, maus negócios. Pg 76
Dodô – pg 78. Primeiro contrata o funcionalismo para depois fazer a obra.
Ser amigo do governo – pg 78
O Silva e as greves – uma gozação de um funcionário da prefeitura.
As muxibas – 1) mulher velha e/ou feia. 2 Pelanca. 3 Carne cheia de nervos e magra. Expressões e conceitos novos
pg 32 – sobre o significado de trabalhista, CPI, Grupo de trabalho.
Kruschev: “Nós da União Soviética, acreditamos, inabalavelmente, que o desarmamento total é necessário para a Paz. Nós, sempre somos pela Paz. Quem quer que fique contra a Paz será destruído”. Em Esse Curioso Comunismo. Pg 134.
CORRUPTOBRAS – 137
A catadupa [ ] de nomeações....
espíquer.
Não há razão para susto. A confusão de direita e esquerda. Pg 141.
“Ó grande Stalin, líder dos Povos,
Tu que deste nascimento ao homem,
Tu que tornaste a terra fértil,
Tu que rejuvenesce os séculos,
Tu que dás flores à Primavera”
Calembur – trocadilho, jogo de palavras baseado na semelhança do som que dá origem a equívocos. Do francês.
Mazorrais – (gestos mazorrais) – grosseiro, mal-educado, rude.
Impertérrito bebedor – corajoso, destemido.

Ser do contra não significa insolência e despeito, mas o estado de espírito do criador. Nesta época de Internet, resolvi ser frequentador de Bibliotecas Públicas.

– É preciso acabar com esse nacionalismo tropical.
– O que quer dizer ISEB? Pg. 153
– Brasil, país do luxo – Pg. 155. A festança nos palácios do governo.
– Barbudo, Brizola e Cia. Pg. 157
– Sobre a farsa dos líderes agrários e os lucros de Brizola e Arraes com a distribuição de terras.
– Nós, os velhos reacionários. Pg. 158. Fala dos povos de hoje que protestam a favor do governo.
– Os trusts americanos – Pg. 169 - Cita a cultura de pedir dinheiro emprestado para criar uma empresa que termina sendo desviado.
– Se o chaufeur é bem procedido ….
– Não eram discursos, eram poliantéias. (antologia de um homem célebre).
– Encheu a carótida e gritou.


Ronald de Carvalho – Estudos Brasileiros

Contém análise das obras e personalidades de:
Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Felippe D'Oliveira, Ribeiro Couto, Raul de Leoni, Agrippino Grieco, Tristão de Athayde, Renato Almeida, Alberto Rangel, Tristão da Cunha, Matheus de Albuquerque, Affonso Arinos, Jackson de Figueiredo, Mario de Andrade. E uma Teoria do Romance, com o subtítulo Ensaio sobre Estética Moderna.

Pela seleção vemos que estão aí representantes importantes da primeira metade do século XX. Sendo um dos principais organizadores da Semana de Arte Moderna de 22, RC não mede elogios à personalidade autêntica, contrária aos modismos e as limitações do momento político de Graça Aranha.

Comentando a correspondência de Machado de Assis com …., assinala:
“Apesar da admiração literária que lhe vota, não pôde Graça Aranha nutrir ardente simpatia pelo desencantado engenho de Machado de Assis. A indecisão, a timidez, o desconsolo fácil dos que se contentam com as raízes amargas da experiência, o temor, a resignação, o espanto da realidade, eis o que ele condena e repele. Graça Aranha tem horror aos que negam ”. Cita uma observação que se tornou uma perplexidade pelo oba-oba em torno do escritor: “...O espírito de Machado de Assis é mais geral, mais humano, porém, não tão intenso que perdure. Ás vezes, falta-lhe graça ao "humour" e nada mais mortífero que a insipidez. Um titulo como "Dom Casmurro" traz a pretensão de impressionar ironicamente, mas sem sabor, não faz rir nem chorar."

E acrescenta de sua lavra:
“A ironia é o pudor do entusiasmo, o temor de desperdiçar a vida. Graça Aranha despreza aquela arma de sofista. Seu espírito é um instrumento de ação. A “Esthetica da Vida” é um conselho para criar, para transformar a substancia da realidade em valores afirmativos e práticos.”

Comentando Graça Aranha e sua obra:

"No Brasil a escola prepara revoltados. Ao longo de todo o nosso curso ginasial e superior aprendemos, num perigoso delírio patriótico, que o Brasil é o mais rico, o mais dotado de todos os países do globo. Nossa imaginação adormece num torpor de maravilhas. Montanhas de ouro, de esmeraldas, de ferro, cachoeiras e saltos cuja força hidráulica se multiplica por milhões de cavalos, terras de uma exuberância incrível, subsolo de inesgotável opulência, eis a miragem com que nos acenam. Atravessamos a infância e a puberdade tontos de tamanha fortuna, certos de que, a semelhança daqueles ingênuos bandeirantes, basta meter a mão na terra para conhecermos a eterna abastança. Enquanto não chega esse dia, vamos sonhando, sonhando. Sonhamos uma história que não é nossa, urna geografia que não é nossa, uma geologia que não é nossa. E o deslumbramento continua. O Brasil é um banco atestado, à espera dos nossos desejos. Todos nos sentimos delfins. Brincamos com a inteligência e a fantasia seguros da partilha farta. Tornamo-nos sábios em tudo. Subimos a Acrópole, andamos nas quadrigas da Ilíada, conquistamos o mundo no calcanhar dos legionários de César, falamos todas as línguas, preparamo-nos, enfim, para urna existência de itinerantes desocupados, amáveis e preguiçosos."

"Quando nos penetramos, porém, do sentimento do real, toda essa metafísica da felicidade brasileira se desvanece. E a nossa vida se transforma numa acusação monstruosa. Não sabemos ver, porque não nos ensinaram a ver. Debatemo-nos, inutilmente, num turbilhão de destroços que nos oprimem. Não podemos crer na realidade. Não temos coragem de enfrentar o problema que nos depara o mundo brasileiro. O fenômeno imediato obscurece-nos a consciência das causas remotas. Não queremos convencer-nos de que somos um país cujas possibilidades materiais só poderão ser aproveitadas à custa de abundantes capitais. Não queremos convencer-nos de que a nossa incultura política é consequência da nossa pobreza, que somos urna grande casa de proletários, condenados ainda por muitos anos, mercê das fatalidades geo-históricas, a descontar os juros do ouro que nos empresta o estrangeiro. Não queremos convencer-nos de que a nossa natureza, tão miraculosa, é um dos nossos piores inimigos, porque nos vem arrebatar, ao menor descuido, os resultados do nosso penoso labor. Não queremos convencer-nos, enfim, de que a imensidade das nossas terras, despovoadas e agrestes, é um dos maiores empecilhos do nosso desenvolvimento. E como não estamos preparados para considerar praticamente essas dificuldades, acreditamos na regeneração pela revolta."

E continua:
"A historia da América Latina mostra-nos copiosos exemplos dessa farsa de revoluções façanhudas e pueris, em que, ao cabo de alguns anos de sangrenta experiência, os chamados Partidos Revolucionários triunfantes são acusados de reacionarismo pelos caudilhos menos felizes, que desertam deles, para atacá-los pelas armas. A revolução é um remédio de luxo, comportável somente em países de excessiva cultura política."

“A crítica literária, entre nós, ainda está quase entregue aos que vendem os bilhetes à porta e não podem assistir ao espetáculo” - pg 123. Confronte com Ezra Pound que recomenda não se dar ouvidos aos críticos que não são escritores ou poetas.

“Se Fausto não chega a Deus, chega, ao menos, à Perfeição, quero dizer, ao domínio de suas dúvidas”. Pg 127.

Meu (14/12/13): O escritor reflete a sua herança através da “consciência do meio” que lhe legaram os antecedentes.

O brasileiro ainda não aprendeu a conhecer-se. Tem medo de si.


Alberto Rangel — Inferno Verde

Um livro clássico da ficção sobre o ciclo da borracha. Natural do Pará, Alberto Rangel que foi engenheiro da turma de Euclydes e depois escritor e diplomata, escreveu no início do século passado, quando a hylea ainda era uma realidade na economia da região norte. A violência seja a praticada na exploração dos caucheiros, seja da jagunçada a serviço de grandes grileiros, é o tema da novela que reproduz — pela pena de um excelente estilista da língua — a insegurança da posse da terra dos assentados e suas famílias, frente a rapacidade dos grandes proprietários.

A importância dos romances do ciclo da borracha são um testemunho do problema da propriedade no Brasil e de como o imenso território se torna presa de barões inescrupulosos agindo em conluio das autoridades políticas na expansão de seus domínios e exploração enganosa dos cearenses retirantes em troca de promessas de uma riqueza jamais alcançada.

Livro que pode ser lido de diversos pontos de vista, servindo para isso como testemunho vivo de nossos flagelos sociais nunca curados.

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Exsurge.
O progresso material é apenas uma fórmula concreta do progresso espiritual.

Pg 156 - Há uma tradição de heroísmo no passado: a revolta contra o Passado. Essa é a tradição que os homens novos de todos os tempos respeitaram.

pg. 158 - A propósito, o mais revoltante em um movimento político é querer ser contra o passado, tomar o poder e passar a imitá-lo.

Hiatos e tautofonias.

“O relativismo do fenômeno estético não comporta nenhuma categoria limitadora da sua expansão” pg. 163
Cada obra de arte revela, portanto, uma ordem.
Cada artista é uma fórmula do Universo.

História Militar do Brasil
Um viajante francês disse (no século XIX): “No Brasil, os frutos não tem sabor, os homens não tem vergonha e as mulheres não tem pudor”. Pode?

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Alberto Rangel foi um figura importantíssima do ponto de vista do estilo literário. Já comentei QUANDO O BRASIL AMANHECIA, uma coletânea de ensaios sobre fatos e curiosidades de nossa cultura neste blog em Fragmentos 2. Frequentemente cito Rangel como um dos mais importantes estilistas da língua portuguesa que pode ser comparado ao cubano Lezama Lima.

Depois de muito procurar em sebos, finalmente adquiri uma edição de 192... satisfazendo uma vontade recolhida de uns 3 ou 4 anos, para completar este ciclo amazônico.

Prometi a mim mesmo refazer trechos do livro com atualização ortográfica, mas acabei sendo vencido pela preguiça ... amazônica.

Nacos:
Pag 107 – a noite amazônica.
“Uma nação de malandrins, um país de 'cocagne' “. pg 102.
Uma garota … enguiço núbil.


Jackson de Figueiredo – A Reação ao Bom Senso

“A repugnante hidra do demagogismo, servindo-se e a serviço das sinistras paixões caudilhescas, de um militarismo de quinta classe, babusado pelas ridículas vaidades da igrejinha positivista”. Pg 7

“Os ingleses, ou melhor, os seus banqueiros, mal disfarçam o pedido de camisa de força para este pobre povo, que era assim posto, e quase sem injustiça, na rabadilha do mundo, para a glória de um ou dois mulatos da trunfa demagógica, de 3 ou 4 bandidos da imprensa, de 5 ou 6 generaletes e coronelões, quando não abarrotados de pernosticismo positivista, ansiosos por uma batalha”.... pg. 26.

“Éramos o povo que realizava toda a turpitude da moral política contemporânea”.

Refolhos de uma alma.
Vasa de ambições sem sentido.
Grupilhos que corvejam sobre a nossa pátria.

Jackson de Figueiredo confirma a tese de Wilson Martins de que o principal inimigo da Igreja católica era o liberalismo. Ele fala claramente na volta da Igreja ao comando do Poder Nacional. Em a Reação do Bom Senso.

Espumarada venenosa.

É notável ressaltar em Jackson de Figueiredo a constante observação sobre a iminência do levante, sobre o ar revolucionário da década de 20.

Centro D. Vital – instituição criada em 1922, como expressão da reação católica e conservadora à crescente laicização e secularização da sociedade moderna, no bojo de um movimento mundial que criticava o liberalismo e o cientificismo. Liderado por Jackson de Figueiredo.


Mendes Fradique — História do Brasil pelo Método Confuso

Uma fornalha de rancores.
O seu pernosticismo de esfinge que não conhece o silêncio.

5/1/14 – Professor no Brasil é aquela pessoa que quer ensinar sem querer aprender.

Nacos:
– A palavra sem ambages [circunlóquios, rodeios]
– uma frutescência ubérrima
– estrénuo trabalho
– ao Brasil vagaroso, segnício....[lento, tardio]
– segnícia – indolência, apatia, preguiça
– os visos nobres de fazer a pátria crescer.
– simília similus curantur
– báratro – abismo, voragem
– enxudioso – oleoso, úbere.
– Abraquelado – broquel, protegido, amparado.
– as anfructuosidades [contato vaginal] dos rochedos marinhos.
– parvenus [elite petralha]
– abantesma – indivíduo assustador, fantasma.
– mulato fulo – atribuído a toda a raça brasileira.
– flamea pimpônia a alta incumbência de seus zelosos delegados nos grandes centros de civilização
– escorregado nas entonações abemoladas de um francês sem ideias.
– Bambúrrio – acaso feliz
– Mente abaçanada
– Létes? – mas ignominioso, horrífico.
– Undífluo – que corre em ordas.
– Imbele – fraco, acovardado.
– Exsicado – seco, sem umidade.
– Canícula – período mais quente do ano.
– Trasgo – traquinas, duende.
– Umbrótico – que procura a sombra. Fantástico, quimérico, irreal.
– Contumelioso – ultrajante, injurioso.
– Venusto – venustidade – elegância, formosura.
– Zoilo – crítico parcial, apaixonado e invejoso.
– Ken ker ke foce.
– Um silêncio comovido.
– Voltando à vaca fria.
– Acântias = ?
– Tructesindo = nome próprio.
– Um aparte engrossativo
– Manduca – apelido de Manoel.
– Saúde e patacas!
– Casando pelo espiritismo.
– Comendador Catespero e a mão de Alan Kardec, testemunhos do casamento.
– Comestíveis e bebestíveis.
– Caísse nas graças, ou melhor, nas graxas de uma gorducha.
– Princípio político : todo mundo manda e ninguém obedece.
– Cabotinismo teocrático: cada um para si e Deus por todos.
– Cassange – forma popular de português mal falado. Especialmente em Angola.

No estrangeiro tivemos sempre nomeada mais efêmera do que as castanhas do Pará! O pobre nome do Brasil era tão só acordado por elas....

... faltando apenas decretações justas, ou melhor, a abrogação dos arreganhos nefários, abreptícios, dos arlequins saídos dos recintos legislativos, sob a capa de leis, para devastar, a golpes de alfanges, o campo vasto da atividade industrial patrícia!

O fruto sazonado de grossas falcatruas durante longos períodos de desmantelamentos oficiais.

O poder público, sempre inerme e sedentário.

“A mentira é apenasmente a negança da verdez” - Antonio Austregésilo Rodrigues Lima
Conquistar o poder como um crítico probo e sério; e depois, exercê-lo como uma figura cômica e arlequinesca.

Pg 42 – já não quero me reportar a louçainhas de estilo, em que seus livros concertam e sustentam um purismo à outrance, não se lhe constata um galicismo que mereça ele mesmo a admoestação.
Ai! qu'rido que me vais à mataire!
“Não devemos deturpar amanhã o que podemos deturpar hoje!”
Pelo olho vazado de Camões afirmo de ordem alfabética e analfabética.
Paciencioterapia.
Procurar Inglês de Souza e José Veríssimo.
Procurar: O Simpático Jeremias de Gastão Tojeiro – teatro.
Espetáculo de capoeira, com berimbau e reco-reco.

Decálogo do Cara:
1) Quem tem vergonha morre de fome.
2) O futuro a Deus pertence
3) Águas passadas não movem moinho
4) O bocado não é para quem o faz, é para quem o come
5) De maus bocados terminou em boas dentadas (meu)
[um decálogo de cinco]

Licor beneditino
Era filho do marido de sua mãe e da esposa de seu pai; fortuna de que não se gaba muita gente boa.
“Em todo o caso interessante pela sua superfutilidade”.
Como é para o bem do povo e felicidade geral danação, diga ao povo que fico.
[ isso aí é de O Brasil Pelo Método Confuso]
Pesquisar as obras de José de Oiticica.
Os moderados, que agiam como quem não quer querendo....
Interinidades vitalícias e hereditárias.

Epitácio Pessoa aposentou-se como inválido do STF, e depois concorreu e venceu as eleições para Presidente da República. Pode? Pôde.
A República foi uma ideia metida de supetão na densidade de sua incultura.

Tendo o resto do bando sido reduzido a torresmo, em banho de querosene inflamada.

Nacos:
– Graganzá de preto
– farofeiros da prodigalidade
– Com a bulha, mais miséria.
– Deixa-te de cafungá.
– Noitibós – escuridão.
– irázios – tiro forte, tiro à toa.
– Chanfalhos nus
– Ensanefados de festa. Adornado, vestido com trajes.
– Curiboca – mestiço de europeu e caboclo.
– Gerifalte – ave de rapina
– milhafre – gavião europeu, gatuno, ladrão.
– Vento áspero e crestante.
– Confrangendo a boca num rictus de ironia
– Zanguizarras – confusão, balbúrdia, som desagradável.
– Homo Ridibundus.

Pg 196. Madonas com cara de teto de estuque.
Porque o seguro morreu de velho.
Lema de Nilo Peçanha: Paz e Amor.
O enervante senhor...
… viram Cabrais dar com os lusitanos costados em terras do Brasil.... pg 247
… ele que passava do seio materno para o alambique.
Laudelino Freire – Graças e Galas da Linguagem

A síntese dos hábitos cognatos: A recursividade dos procedimentos alavancados pela cultura.
Renato Carozoni – A Bailarina Solitária [procurar]


Bertrand Russell – The Ancestry of fascism.

“A civilização é impossível sem a tradição e o progresso é impossível sem a destruição da tradição” - Le Bon pg 49

A dificuldade se resume em encontrar um equilíbrio entre a estabilidade e a variabilidade.


Alberto Rangel – Quando o Brasil Amanhecia

– Paremiológico – ciência que estuda os provérbios.
Fridegodus
– ectótico – matéria que trata de estabelecer a forma mais original de um texto, crítica textual.
– Terríveis verrimas
– Viagem pelo Sul do Brasil de 1858 Roberto Avé-Zallemand (I e II) [Li e gostei]
– Falas sobejas
– Elucidatório
– malavenças
– Até que chegue às ventas presidenciais.
– Soniculoso – que tem sono.
– Amorfanhada.
– Com todos os raios da minha potestade!
– Píleo – o lado superior da cabeça das aves.
– Perlenga – discurso oco, fútil, desordem, agitação
– Tunante – vagabundo, embusteiro.
– Camândulas – energia boa, tranquilizante.
– Resispicência – arrependimento eficaz.
– Lobrigar – ver ao longe, perceber, ver por acaso.
– Pábulo – alimento, sustento.
– Prossecução – andamento.
– Urucus – tipo de abelha.
– Pacova – moleirão, palerma
– Jetica – batata doce.
– Jati – abelha pequena, abelha mosquito.
– Carnífice – antropófago – pontífice e carnífice.
– Harpia – figura mitológica constituída de cabeça de mulher e corpo de abutre; pessoa ácida, avarenta, extorsionária.
– Almodia – canoa de tronco.
– Subsentido
– Tatajuba – árvore de madeira amarela.
– Lapa – gruta.
– Ínvios – onde não há caminhos. Intransitável.
– Saca-trapo – instrumento para limpar canhões – saca-bucha. Expediente astucioso usado para obtenção de algo.
– Esulcas – vigia, sentinela, observador, olheiro.
– Caponga – pequeno lago de água doce, nas areias do litoral – linha para pescar à mão, sem anzol.
– O rio tacitífluo.
– Prefulgir
– beberronia
– A trovoada estrugia precípite
– Descrição de um vendaval – pg 94 – 426

Pg 171 – Os lavradores de Minas, esfolados de dízimos, quintos, impostos de entrada e de passagem só viam nas casas de fundição, instituídas pela Carta Régia de 11/2/1719, a fábrica de outros tantos gravames para lhes minguar de toda a fazenda ganha a mourejar nos cascalhos de tão desolados Cafarnaúns (cidade da Galileia, nos tempos bíblicos) [ continua sobre a tributação em 1719].

Pg 102-470: os jasmineiros, os resedás, os relveiros …. (descrição das flores), cálice redolente evolutínico
um galo da serra, topetudo e fulvipene
Ver pg 103 sobre animais e gestos.
Charravascal de paixões e sórdidas intrigas.
rebusnantes
Bando de canifrates e opados.

Que barroco precioso, que exuberância verbal, que festival de assonâncias, de erudição linguística, que bacanal de expressões nos fornece Alberto Rangel !!!! Não há nada igual na literatura brasileira. Quem aprecia a língua não pode deixar de lê-lo.


Primo Levi – Isto é um Homem?

Tenho em Italiano – É QUESTO UN UOMO?
Relato comovente de sua experiência no campo de Auschwitz. Descreve a degradação humana de seu grupo de resistência armada (os chamados partigiani ligados ao PCI) que foi capturado nas montanhas do norte da Itália quando combatiam o fascismo de Mussolini, e enviado para o campo de concentração.

A sede e a fome vão transformando os prisioneiros em fantasmas vivos, cujo desespero diário pela sobrevivência, a incerteza de chegar vivo ao fim do dia, de nada saber do que se passa no mundo exterior, das inevitáveis animosidades, cumplicidades e até de um mercado negro dentro do campo, onde se trocava botões, meias, toucas ou qualquer coisa por uma fatia de pão, fazem da narrativa de Primo Levi um depoimento comovente sobre Auschwitz.


Plínio Salgado – O Ritmo da História

Descreve sua filosofia de fé cristã e combate ao totalitarismo comunista. Para PS a história segue sempre um ritmo de agregação seguido por outro de desagregação.

A geração de intelectuais que conviveu com o fracasso da Primeira República, voltou-se para o integralismo como uma solução para a crise existente, atribuída à inadequação do liberalismo para a nossa cultura social e política.

Foi apenas mais uma manifestação do estatismo atávico da sociedade brasileira organizado sob a forma de uma teoria que pudesse enfim nos tirar da confusão e caos institucional. Plinio Salgado era o expoente dessa doutrina que, com a ditadura getulista de 1937, foi perseguida e depois desapareceu com a vitória democrática de 1945. Porém, seu espírito de um estado forte capaz de superar nossos males sociais permaneceu disseminado em diversas correntes políticas, especialmente de cunho socialista.

Nacos:
– Declaração untuosa e falsa
– disceptação – controvérsia, discussão.
– Loquela
– Mafamede – mouro.
– Burelina [fazenda ordinária de lã] do bioco [mantilha, véu que cobre a cabeça]
– Procurar as comédias de Antonio José da Silva
– Gafento – leproso, sarnento
– Frandulagens [bugigangas] de delambidos.
– Decadentes, salta-pocinhos e carolas.
– Fúfia -
– Rafaméa – rabanete
– caraxué – proxeneta, cáften
– Zagalote – bala pequena, rapaz travesso
– Replicou nas buchas
– Deitou o ponto, enchendo a tonelagem de quatro embarcações.
– – Serafina – forno de lã.
– Farrambamba -
– Uivaram jaguapocas [cão sem raça] longe -
– Solípedes -
– Sirga – cabo ou corda para puxar embarcação em beira de rio.
– Catadupa – catarata.
– Puçanga – remédio caseiro
– Sezão – maleita – febre intermitente
– Filancioso – jactancioso, bazófico.
– Tarameleiro – falador, palrador.
– Vavavá – motim, desordem, alvoroço.
– Cacatua – ave com penacho na cabeça.
– Chispe – pé de porco
– Copázio – copo grande
– Aljôfar – pérola miúda, lágrima de mulher formosa.
– Galivar – dar configuração própria à madeira – tracejar, moldar.
– Tissando nos ramos
– A manhã aurifulgente
– Sorrabar -
– Coriboca – mameluco, mestiço.
– Trumbiculídeo
– Tiburnice – misturador de bebidas
– Bambúrrios – acontecimento casual, sorte.
– Sanhuda [ a tentativa sanhuda]
– Irrefragável – incontestável, irrecusável.
– Albardeiro – mau artista, quem faz trabalho imperfeito
– escachar – abrir rasgando – fender, confundir, envergonhar.
– Clâmide – Na Grécia, manto que se prendia ao pescoço e ombro por um broche.
– Superna – superior, supremo.
– Tibórnia, tibornice – mistura de comidas e bebidas – mixórdia.
– Engrossamento – puxa-saquismo.
– Ominoso – agourento, funesto, abominável.
– Titela – a parte mais preciosa de qualquer coisa; coisa estimada, a parte carnuda do peito das aves.
– Cangulo – peixe, fig → pessoa dentuça.
– Absono – dissonante
– Nênia – lamento fúnebre -canto plangente.
– Bufarinhas e farelórios.
– Engrimanços – modo obscuro de falar, enredo, artimanha.
– Patanatas – mentira jactanciosa, pessoa toda afetada.
– Bandoria – bando de sediciosos, bando.
– Cérceo – cortado pela raíz, cortado rente. Um golpe cérceo.
– Comprando nabos em sacos [coisa do Eça]
– Feérica alomorfia- Deslumbrante passagem de uma forma para outra.
– Ab-rogar – extinguir (lei, decreto)
– Enxundia – excessivo, dispensável (um texto enxundioso) – Banha.
– Tuna – ociosidade, vadiagem.
– Palor (da ignorância) – palidez
– Sarnoso → sarnento → abatido, combalido
– O alto imposto fê-la [a industrialização do látex] exclusiva fonte de aventuras, degenerando em destruição o que deveria ser metodizado.
– Em 1904, 1905 o Congresso Nacional decreta o uso e gozo do hino e bandeira como privativos do oficialismo do governo. [Muito significativo que o estado já fosse o dono da nação].
– Gravar – causar opressão, prejuízo. Tornar um bem impossível de ser vendido por seu dono. Sobrecarregar com impostos adicionais.
– Bujamé – filho de preto com mulata ou vice-versa. Moleque de cozinha.
– Marosca – trapaça, logro, ardil.


Gilka Machado

Eu amo as amplidões, os largos descampados onde pode a minha alma as asas espalmar. Amo o desdobramento encantador dos prados em que erra e se fadiga o meu ansioso olhar. Eu amo o longe, o vago, os mundos ignorados e o desejado ondulante e intérmino do mar quando só vejo céu, céu de todos os lados, e a água a se distender e a indeterminar.

Amo a longinquidade altíssima dos cumes dos montes; amo os sons, só porque eles me dão a sensação de infinito, assim como os perfumes.

Amo-te (e neste amor o meu gosto se apura), porque me perco em ti qual numa vastidão, porque ao teu lado sinto a vertigem da altura.

Nivosos sons desfiando no ar.

CRISTAIS PARTIDOS, A MULHER NUA, MEU GLORIOSO PECADO, SUBLIMAÇÃO

A árvore é bela quando a terra é boa...
A árvore é tão terna quanto o sonho é da carne que o gera.
Braços enleantes

Descobri Gilka e pus-me a lê-la com grande agitação. Considerada a precursora do feminismo no Brasil (do autêntico, não do escrachado), com o lançamento de seu primeiro livro de poemas em 1915, Gilka submergiu no lago pantanoso do esquecimento, como a maior parte do gênio nacional. Sequer é conhecida pelas mulheres ilustradas deste país (2019).

Uma breve biografia pode ser lida aqui.

Martins Pena – Precursor de Macedo e autor de comédias.
Macedo – Fantasma Branco / A Torre em concurso / Luxo e Vaidade (sátira política, conferir). Acentuado tom predicante e moralista.
Veritas Odium Parit – Cícero
As cotteries [grupo de interesses comuns, panelinha, chorrilho, igrejinha] do momento.


Euclides da Cunha — Contrastes e Confrontos

Euclides era contra os caucheiros. "Para a Amazônia de agora deverá restaurar-se integralmente, na definição de sua psicologia coletiva, o mesmo doloroso apotegma: ULTRA EQUINOCTIALEM NON PECCCAVI que BARLEUS engendrou para explicar os desmandos da época colonial".

TAVARES BASTOS – O Vale do Amazonas. [Lido e comentado mais a frente]

EM CONTRASTES E CONFRONTOS Euclides da Cunha já falava dos nossos flagelos, e para sanar o problema da seca, a transposição do S. Fco a pg 64 – Plano de uma Cruzada.


Sylvio Romero: Zeverissimações Ineptas da Crítica — Repulsas e Desabafos

A maior surra intelectual que já li em toda a minha jornada pela crítica. Romero reduz a pó os argumentos de José Veríssimo, o homem que colocou o pedestal da glória em Machado de Assis e que Romero acertadamente mostra em 400 pgs todas as limitações do estilo machadiano e sua estupefação por uma glória imerecida. E de 1906 para cá Veríssimo foi quem ganhou espaço na crítica literária, exatamente porque a literatura começou a ser frequentada cada vez mais por jornalistas e a influência americana que também converteu – através das grandes casas editoriais – a literatura em uma moldura rígida de estilos todos rendidos ao jornalismo, corroendo nossa expressividade, como ocorreu com os parnasianos cada vez mais odiados, como Coelho Neto e também os engenheiros e colegas de estilo de Euclides como Carlos de Vasconcelos e Alberto Rangel.

Depois a Universidade adotou o tom de Veríssimo e os críticos subsequentes como Moysés Velhinho subscreveram as mesmas opiniões fazendo da literatura despojada, linguisticamente estéril, metaforicamente pobre, poeticamente sofrível, o cânone da literatura nacional, especialmente com o modernismo e o aparecimento de figuras sucessoras como Jorge Amado e Graciliano Ramos.

Sem dúvida o desabafo de Sylvio Romero sobre José Veríssimo vai muito mais do que meramente situar-se como um componente da crítica, porque ele investe raivosamente contra as patotas e clubinhos de amigos que se dedicavam à louvação recíproca em páginas de jornais e ultrapassa a moderação e objetividade para investir pessoalmente contra um Veríssimo que ao rivalizar com ele (Romero) em sua construção crítica da literatura nacional, torna-se o preferido da nova geração emergente, e Romero termina esquecido.

Contra Romero não há nada a se obstar além das exagerações de sua própria personalidade e seu provincianismo exaltado da geração sergipense, exceto o fato de não ter citado em sua análise da obra de Macedo – o Memórias do Sobrinho do Meu Tio, uma das melhores sátiras políticas do Império e uma recriação do Dom Quixote no espírito da política nacional, uma omissão que lamentavelmente permanece até hoje.

Segundo José Veríssimo em Estudos da Literatura Brasileira, Sylvio Romero é o produto do polemista que mistura a chalaça portuguesa com a pacholice e a capadoçagem nacional, temperada pela alegria ingênua e fácil que o negro nos herdou. Pg 67.

Por sua vez, Sylvio Romero foi generoso com Euclydes da Cunha: é o grande escolho da arte da escrita: exatidão e relevo, naturalismo e brilho, consistência e colorido, poesia e verdade.

O bom de ler Sylvio Romero é que não encontramos os cacoetes vernaculares da crítica moderna, como dialogismo, intertextualidade, transversalidade, etc.

Maremático, como diria Euclydes.

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O Estado como uma sociedade dentro da sociedade
Miríficas virtudes.

É a oligandria, ensinaram estes mestres (Lapouge, Nietzsche, Seeck, Gobineau) isto é, o desaparecimento das classes dirigentes enérgicas que acarreta a queda das nações.

Escalracho daninho – erva daninha.
Saloio – aldeão dos arredores de Lisboa, indivíduo rústico, grosseiro, velhaco, matreiro.
Dislate – disparate, asneira
Pabulagem – presunção, empáfia.


Crônicas sobre o Brasil nos seculos XVI-XVII
Frei D'Auberville
Gaspar Barleus (Franz Post)
James de Laet
Albert Eckout – desenhos
Zacharias Wagner – desenhos
Du Guai Tovin
François du Clerc
Hakluit (?) [acho que tenho problema de grafia aí]
Cavendish
Dampier
James Cook
Kindersley
André François Frézier
Gentil de la Barbinais
La Condamine
Louis Antoine D'Ouganville.

Procurar Tobias Barreto – Ensaio de Peruística ou a filosofia do Peru. Em Estudos Alemães.
Filáucia – jactância, bazófia, impostura.
NOLEM VOLENS -

[A felicidade, tanto quanto a liberdade, para o indivíduo é tal que quanto mais a possui, menos sabe onde está, e quando a perde, consegue auspiciar suspiroso o passado da inconsciência desprevenida.]


Tobias Barreto — Vários Escritos

Organizado por Sylvio Romero.

Da página 104 (do livro original) em diante está a argumentação sobre o governo corrupto e a sociedade corrupta. Deste modo o governo representativo é um complexo de altas medidas policiais, um sistema de prevenções.

Ŕecua de mediocridades.

Tobias Barreto disse que não pretendeu ser candidato, doutor, presidente ou secretário de província, magistrado ou lente da academia. Seu único propósito era escarnecer deste país.

Que le diable les importe – que vão para os diabos!
Fazer o diabo mais preto do que ele é.

As sete idades do homem segundo Hipócrates: infans, puer, adolescens, juvenis, vir, senior, senis.

Como diz o ditado, “quem gosta de flores não pode ter mau coração”.

Tobias Barreto desabafa ao dizer que duas coisas existem no Brasil que precisam que seus autores critiquem a si mesmos, reconhecendo seus defeitos: o liberalismo e o bacharelato. E conclui que pelo que lhe toca ia fazendo o que podia.

A página 351, criticando o livro de Da (?) Soriano e esboçando o verdadeiro sentido da metafísica, T.B. ataca o velho catolicismo retrógrado e com isso abre a suspeita do porquê ter sido ignorado pelos nossos contemporâneos.

Literatura não é sinônimo de poesia e romance, porém sinônimo de vida espiritual. Por isso, [ela representa] uma estatística aprofundada de todas as produções intelectuais de um país, como na ciência, filosofia, poesia, teatro e romance... e até na música e pintura.

Meu: Este era o conceito do século XIX que se perdeu no século XX. Em parte justificado, porque a filosofia se transforma em crítica e abandona a ontologia do ser, e também da vida espiritual, pois se transforma em psicologia e análise social.


Tobias Barreto – Dias e Noites

Trescalar – exalar forte odor.
Delitos por omissão.
Baldões – impropérios, doestos, opróbrios.

Contém uma biografia escrita por Sylvio Romero. Trata-se de um livro de poesia.


Tobias Barreto – Discursos Completos

O mútuo respeito, a confiança na fé e na honradez de todos que se enraizou na política norte-americana, a tal ponto que a opinião adversária sempre era levada no sentido da conciliação, ao contrário da política mexicana e francesa, baseada na ruptura.

… pois que, em última análise, nós não temos políticas, porém somente partidos, não temos governos políticos, porém governos partidários; efeitos de velhos hábitos enraizados que nós, é verdade, não estamos no caso de reformar.

Qualquer grupo político, qualquer grupo ou facção política, não passa entre nós de uma GALERIA DE ESTÁTUAS MUTILADAS.

Meu: a pretensão de penetração do impetrante probóscide protrátil.

2 discursos sobre a emancipação da mulher.

A deusa da filosofalha – Schopenhauer.
A razão é a deusa da filosofalha, como a liberdade é a deusa da canalha. Tobias Barreto
verecúndia – vergonha
Prolfaças – parabéns
Encomiástico – laudativo, louvaminheiro


Tobias Barreto – Estudos Alemães

Sobre a mulher – interessante dissertação sobre os direitos da mulher na crítica de um jurista judeu-alemão. Fala coisas engraçadas e verdadeiras sobre o que hoje seria lugar comum.

O Haeckerismo na zoologia.

As virtudes do nr. 3: os 3 reis magos, os 3 dias de Jonas no ventre da baleia; a santíssima trindade; os 3 poderes de montesquieu [os 3 complementos ou objetos da sentença que mais tarde Proust falou].

Contradicto in abjecto – contradição entre partes de um argumento. Uma espécie de oxímoro. Excelente artigo sobre os problemas debatidos no nascimento do evolucionismo.

Em A Organização Comunal da Rússia compara o Brasil com a Rússia em 1874. Acha o Brasil mais atrasado e fala do municipalismo.

“Se algum sentimento pretendo despertar, não é tanto a admiração da grandeza alheia, como a vergonha da miséria própria”. Pg 116.

Nacos:
Boudoir – vestiário, sala íntima.
Nochalance – falta de cuidado proposital, ficar calmo e despreocupado.
Hetairato – prostituição de luxo na Grécia. Da influência do salão sobre a literatura.
Musageta – Apolo musageta, o condutor das musas.
Peta – mentira.

Descreve Tobias os salões parisienses do século XVIII. Um excelente artigo sobre a arte da conversação e suas mazelas.

Ensaio sobre a tentativa em matéria criminal.

Sobre a co-deliquência e seus efeitos na praxe processual.

Facta loquuntur – façamos os fatos falarem

Faz elogio a Sylvio Romero sobre sua percepção do leguleio na psicologia do brasileiro, do seu talento chicanístico pronunciado. O demandista saiu deste embrião.

… que possuímos em número legionário....

Pg 182 (192) – E um povo que se curva humilde e resignado a todos os arbítrios e impudências do poder, como que seguindo o exemplo dos negros – escravos, incapazes de reagir até contra os “bichos” que lhes atacam os pés, não tem personalidade. É um povo rebanho, no verdadeiro sentido evangélico, – duplamente rebanho, em relação à Igreja e em relação ao Estado.

“Não há direito contra a verdade; tudo o que pode contribuir para que ela apareça evidente e incontestável, não deve ser omitido, sob qualquer pretexto que seja”.

Este artigo é importante pela argumentação jurídica sobre o escopo da lei da igualdade para delitos em que a justiça separa os foros (privilegiando a um e não privilegiando a outros), mostrando a incoerência do Código Penal. E isto ainda existe.

Uns ligeiros traços sobre a vida religiosa no Brasil.

O mister da religião: iludir e consolar.

Quem não sucumbe pela doença acaba enfim no marasmus senilis.

“A fantasia é a verdadeira 'dei genitrix', o princípio gerador da ideia do divino”.


Tobias Barreto – Estudos Filosóficos sobre Hugo e Auerbach

Discorre sobre o Socialismo em Literatura.
Uma excursão diletante pelo domínio da ciência bíblica.

Misérias do Império e sua corte. D'Argenson dizia que a corte de Luis XV era o túmulo da nação (le tombeau de la nation).
Rouvinhoso – rabugento, caprichoso


Tobias Barreto – Menores e Loucos em Direito Criminal

Está contido em ESTUDOS E ENSAIOS FILOSÓFICOS, cita na pag 209 o Código Criminal vigente na época (1875) em que não eram julgados criminosos somente os adolescentes menores de 14 anos !!!

Nacos:
“Cum animo lucrandi”
Formidaloso – medonho, pavoroso, amedrontador
Campanudo – bombástico, afetado, empolado.
Mavórcio – relativo à morte.
Sporcatore di carta – gastador de tinta e papel.
Caudino – cidade de Cadium onde os romanos sofreram uma derrota humilhante dos samnitas. Por extensão: forças caudinas = humilhação, vexame.
Nédio – que tem lustre, luzidio, reluzente.
Zé Churumela
Gafo (há 40 anos) – leproso, desonesto, corrupto, ansioso.
Charivari – gritaria, vozeria, algazarra, desordem, tumulto, confusão, música desafinada. “Sarapintar o estilo”.
Bestialógico – sem nexo, disparatado. Escrito ou discurso sem nexo.

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Nacos:
Sylvio Romero sobre Valentim Magalhães: “das principais qualidades do estilo — personalidade, força, movimento, precisão, elegância, colorido... ele não possui uma só.” pg 43
– Falta-lhe cultura e coragem. “Quase todas as gerações, ao entrar na vida, começaram por uma opinião exagerada de sua força e dos destinos que supunham caber-lhes em partilha” disse citando um autor europeu.
E concluiu S.R. Que V. M é o “mais acabado exemplo do sestro [esquerdo, sinistro, agourento, sina do destino, maranha, ronha] da sequacidade [seguidor, sectário, comparsa, cúmplice (sequaz)].

No dia 15/3/14 terminei de ler Sterne – Tristran Shandy. Ufa! Que cansaço! Sterne tem todos os estilos futuristas que o modernismo de um Joyce, Adelino Magalhães e tantos outros haveriam de explorar séculos depois. Mas é cansativo e maçante, repetitivo, labiríntico e de um humor que nos escapa o sentido, tal a distância intelectual que nos separa, pois suas referências é a escolástica greco-latina. É indispensável para um estudo do estilo, da metafísica, do ato de escrever e da ironia compulsiva.

Nacos:
Carveiras sebentas da velha retórica.
Tafulão – sedutor de mulheres
Taful – janota, peralta, festivo, alegre.
Caturra – teimoso, retrógrado, aferrado a hábitos ultrapassados.
Lorpa – idiota, grosseiro, tolo, boçal
Nuga – ninharia, bagatela.


Sylvio Romero – Manual da História da Literatura Brasileira

S.R. compila todos os seus trabalhos em um único tomo, mas notei uma falha na edição que pula da pg 321 para a 324 e as pgs 322 e 333 aparecem logo após. Compendiar – reunir material disperso. Fazer síntese. Vaniloquia – de vanidade → caráter do que é vão, vaidade.


Sylvio Romero – Parlamentarismo e presidencialismo – 1893 – Cartas a Rui Barbosa

Desnecessário dizer que Sylvio Romero com apenas 4 anos de República já enxergou no presidencialismo nossa danação política.

Para ele o interesse brasileiro para com os assuntos públicos só vale como objeto de palestra e desfastio.

Ele ataca os positivistas e os reacionários.

Frase de S.R que caracteriza bem a semântica da época: “o parlamentarismo, com sua marcha moderada e suave, é a forma mais perfeita do conservadorismo progressista”. Pg 140.

“Alguma coisa que poreja força e prestígio”.

“Um bando de escravos bestificados pelos bonzos de uma religião caduca”.

Nacos:
Estro → gênio criativo. Ver sestro acima.
Os ratés [mal-sucedido, infrutífero, vão, abortado] da critiquice nacional.
Escorço – resumo, síntese, esboço reduzido
O criticastro brasileiro.
Aprisco – curral, decil, paróquia e abrigo do lar, antro.

O profetismo é a melhor forma de proteger um raciocínio de sua fragilidade e contestação, uma vez que ele se refere ao futuro. Todo futuro tornado fé é indestrutível.

Peco – definhado, que não medrou. Falto de inteligência, idiota, tolo.


Provocações e Debates

Ver no blog Ensaios o artigo “Nosso maior mal” de Sylvio Romero, clicando aqui

Nacos:
Corveia – trabalho não remunerado que o vassalo deveria prestar ao seu senhor. 2. trabalho duro imposto a alguém.
Jigajoga – coisa instável, contradança, ludibrio. Tipo de carteado.
Bizantinismo – 1. tendência para discutir questões complexas e minúcias, deixando de lado os resultados práticos. 2 algo pretensioso e frívolo.
Inconcusso – inabalável, incontestável, severo, íntegro (caráter inconcusso).
Pingues [rendoso, lucrativo, gorduroso, fasto] posições da politicagem.
Rebarbativo – rude, carrancudo, desagradável, enfadonho, antipático.
Refece – destituído de valor, pobre, desprezível, infame, vil.
Cenobita – que vive em reclusão e em comunidade.
Chichisbéu – galanteador.


Antonio Muniz de Souza – Máximas e Pensamentos

Peregrinações pelo Brasil de 1812 a 1840
O Homem da Natureza. Merecia ser considerado o patrono dos ecologistas, não fossem estes um bando de aproveitadores.
Ver opúsculo sobre o viajante
Pg 114 – sobre a religião de Carlos de Vasconcelos – Pro-Patria

Seu comportamento frente aos índios e escravos humildes, sua luta contra o vício, a hipocrisia e a adulação. Trata-se de um código de ética sobre o comportamento desinteressado colocado na pessoa do viajante. Critica os partidos políticos e o atraso social. O interessante é sua nota à pg 45 sobre os balões aquecidos que ele fala como casas voadoras e condena evidentemente como uma bazófia.

O portal Scielo tem um artigo sobre ele (pesquisando como MONIZ no Google) e seu trabalho na coleta da flora e estudo de propriedades terapêuticas. Uma descrição biográfica ainda melhor pode ser lida no meu A Insondável Matéria do Esquecimento.

D'es d'a Bahia.

Na sua despedida fala da indiferença com que foi tratado pelos ministros do Império. Sua única recompensa foi a acolhida de estrangeiros, pois a tudo pôde vencer, menos a indiferença dos governos por seu trabalho. Muniz de Souza deveria ser o patrono dos ecologistas brasileiros, se houvesse cultura literária na ecologia, ciência capturada pelo charlatanismo. O livro Máximas e Pensamentos trata da ética nas relações humanas do ponto de vista de um país que aplica maltratos nos escravos, persegue inocentes que denunciam abusos e corrupção nas administrações municipais, e o resto do faroeste que conhecemos. Trata-se de um importante acervo de memórias de viagem que realizou pelo Brasil. E uma das fontes de conhecimento produzida por analistas independentes.


Agassis — Viagem ao Brasil — 1865-1866

Surpreende-se com o lixo acumulado nas ruas do RJ.

Nacos:
Bis in idem – repetição sobre o mesmo fato. Fenômeno do direito que consiste na repetição sobre o mesmo fato.
Vesânia – loucura, insanidade
Jarretes – parte inferior da perna
ipueiras – charcos
gafar – contaminar
Serôdio – tardio, extemporâneo.
Arrebique – enfeite ridículo ou exagerado; artificialismo nos gestos, fala, afetação.
Igarité – chata, barca.

Me assalta a ideia de que nosso fracasso histórico nos coloca na vulnerabilidade de uma invasão aplaudida, e de que as esperanças de um novo recomeçar com outra direção seja o apelo final de todos os espíritos cansados de si mesmos (meu).

AGASSIZ – É patético o dizer de Agassiz (pg 92-nota 54) de que os brasileiros apreciam pouco a horticultura sendo que os legumes que consomem são importados em conserva da Europa, na maior parte.

[Tratos e distratos de orientalismos desorientados.]

Agassiz fala de uma negra velha que recebeu a alforria e não quis deixar a habitação dos senhores e conclui (pg 137) que a emancipação geral é aqui (no Brasil) considerada como tema de discussão, a regular por lei para ser adotada.... de repente em um baile aparecem entre os escravos uns rostos quase brancos, pois que, como em toda a parte, a escravidão traz nas fatais consequências, e escravos claros não constituem raridade muito extraordinária.

Descreve em um casamento de negros a rudez estúpida do padre, que ao fim expulsa da Igreja os nubentes como se fossem cães (pg 144-145). Em 1865 Agassiz desembarca em São Luís do Maranhão e descobre que havia um hotel, uma raridade em uma cidade brasileira. Pg 147. Mas uma nota da tradução francesa diz que havia hotéis sim e que os Agassiz não viram devido a acolhida entusiástica [nos aposentos reais].

Agassiz descreve repetidamente o encontro nos barcos de visitas com prisioneiros índios e caboclos capturados para servir na guerra do Paraguai e das crueldades que sofriam com os ferros sem nada terem feito de mau. Era a forma de recrutamento.

Nacos:
PANGAIO – que trabalha pouco, mandrião.
IMPERVERSAR (do italiano) a VARÍOLA – andar à solta, reinar.
TERPSICORIANA – do inglês terpsichorian → relativo à dança. Do grego, referente ao balé das musas, em que uma delas segura uma lira.
Condensado <–> decantado.

Fala que a borracha se formou com o mesmo problema que ainda existe na Amazônia: a falta de título de propriedade. Os barões recebiam concessões, também não eram proprietários e a exploração era a de terra arrasada.

O Brasil poderá retomar (e de fato a exploração cultivada já começou em 1992) a produção em larga escala e integrá-la ao agronegócio da mesma forma como já tem sido bem sucedido na exploração florestal.

Mercado de Santos – Brincadeira Teatral de Agassiz à pag. 409.

Agassiz fala que o brasileiro é um tipo que pratica a doação de esmolas como ninguém. E faz mais doações para hospitais do que para escolas. Para construir o Hospital dos Alienados no Botafogo, o Imperador Pedro II distribuiu títulos de barão, comendador e outros, proporcional a quantia paga. Pg 424, provando que era possível ser nobre somente com doações, dado que o brasileiro era louco por títulos (doutorismo, acrescento eu).

Importante observação sobre as mulheres pg 430.

“Nada impressiona o estrangeiro como essa ausência de livros nas casas brasileiras”. Pg 430. Comprova que o desinteresse pela leitura do brasileiro tem raízes antológicas.

Agassiz baixa o sarrafo no clero brasileiro, chamando de ignorante, imoral e com uma influência profundamente arraigada pg 447. Nosso caráter dúbio deve provir de observações como esta feita pelo povo, no qual até os representantes da Igreja mentem no papel que representam.

Os brasileiros são mais inclinados a superstição do que à dúvida.

Interessante o que fala do CAFÉ, pg 454. Entre o produtor e o exportador existe o corretor, meio banqueiro, negociante que mistura as diferentes colheitas e rebaixa o tipo, impedindo que se crie uma marca no Brasil como fazem os holandeses com seus produtos, não sendo reconhecido e prestigiado pelos consumidores ao redor do mundo.

Vivendo as margens de um Rio que abunda a mais delicada pesca, os amazonenses fazem grande uso de bacalhau salgado importando do estrangeiro. [estupidez genética]

Quanto a hecatombe da borracha, editei e publiquei Pró-Pátria de Carlos de Vasconcelos, devido a grande quantidade de dados que apresenta. Link aqui


Martins Pena – O Noviço

3 peças de teatro sendo que gostei mais de O Juiz de Paz na Roça. Tem também Quem Casa Quer Casa. São peças mais para café-teatro do que teatro propriamente dito.

Nacos:
ABOSTELAR – criar bostela, ferida, pústula, putrificar.
Preamar – maré alta
Ourela - margem, borda.
TEMPUS FUGIT


Manuel Antonio de Almeida – Memória de um Sargento de Milícias

Pg 56: “ser valentão foi em algum tempo ofício no RJ: havia homens que viviam disso, davam pancada por dinheiro, e iam a qualquer parte armar de propósito uma desordem, contanto que se lhes pagasse; fosse qual fosse o resultado”.

Nacos:
Pandilha – quadrilha de malfeitores, golpistas, biltres, canalhas.
Sandeu – indivíduo que faz sandices, parvo, ingênuo, simplório, pateta.
O sertão do Quebra-Bunda
Acérrimo – pertinaz, decidido, acre, forte
Camarços e dissabores – desgraças, revés de fortuna, achaques
Liberais de encomenda!
Ambages e circunlóquios – rodeios, ambiguidades.
Os 3 tipos humanos do século XIX:
Mixotipo – normolíneo: pessoa ou animal com pescoço longo e normal com pelos
Brevilíneo – que tem tronco mais curto e ventre avantajado.
Disgenopata – joelhos arqueados e inferioridade psíquica.

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Quando a Alemanha invadiu a França e os nazistas ocuparam Paris, Getúlio Vargas em discurso anunciou a “superioridade das novas democracias sociais sobre as democracias liberais”. O “social” não é acidente para referir-se ao nazismo.

Nacos:
Governista → devorista
Retovado – fig de disfarçado, fingido, dissimulado, sonso.
Retovo – forro de couro.
Retorquir – replicar, responder, retrucar.
Acoitar – esconder, homiziar, abrigar, proteger, ocultar.
Descoroçar – perder a coragem, desanimar, desapontar, desencorajar.
UNO AVULSO NON DEFICIT ALTER – Quando um for descartado, outro ocupa o seu lugar.
UTINAM TAM FACILE POSSEM VERA INVENIRE QUAM FALSA CONVINCERE! Se fosse tão fácil encontrar a verdade como é refutar a mentira.
Zumbaia – salamaleques
Seresma – mulher indolente, preguiçosa, asquerosa, bruxa.
DEVORISTA – praticante do devorismo: modo de atrair clientela política.

Para vomitar este BELÍGERO (beligerante, belicoso) fel do rancorismo. Pg 196
O novo sistema, suscitado para corrigir os abusos do antigo despotismo, se faz cúmplice obsequioso deles. Pg 254.

[O vitimismo do corrupto consiste em descabelar-se quando pego em flagrante, de ter só ele sido malsinado enquanto todos os demais são iguais a ele e não sofrem as mesmas calúnias, mostrando que seu pesar é o de apenas ter malogrado em sua empresa e não no remorso do crime que pungia.]

Nacos:
13/4/14- MAL DOS FADOS → sina do destino, segundo suponho.
Salgalhada – mixórdia, trapalhada, confusão, mistura.
Vergel – pomar
escarmento – castigo, censura, lição apreendida da vida, desengano, decepção.
Levar as lampas a → levantar vantagem; deixar para trás, vencer.
Âmbula – vaso para guardar os santos óleos.


Amadeu Amaral – Elogio da Mediocridade – 1924

...”os flagela com seus apodos e só falta declará-los fora da lei, açulando-lhes na piugada o chanfalho repressor da polícia.”

Nacos:
Apodo – zombaria, mofa, gracejo, alcunha.
Piugada – rastro, pegada.
Partis Pris – opinião assumida antecipadamente, preconcebida ou tendenciosa.
Plebeísmo e barbarismos –
frases camaleões
O elastério [elasticidade, energia, força moral] dado aos vocábulos –
Ex-corde – do coração
Genus irritabile vatum – a irritável raça dos poetas ou a irritabilidade dos homens de gênio.
Deste vale e destas quebradas –
Silhar – pedra lavrada para paredes de edifícios.
Esfumaturas
Afirmações hirtas – sentenças ósseas, tom imitativo que entrezilha a escrita.
Áulico – pertencente a corte e ao soberano. Nobreza áulica, palaciana, cortesão.
Farfalhia – falar exageradamente, excesso, superfluidade.

Pg 227 – Daqueles que figuravam no vasto polinômio representativo de nossos valores intelectuais.

Pg 228 – …. a cultura de casquinha só permite a circulação dos nomes etiquetados.

A Academia Brasileira de Letras é um bom artigo de Amadeu Amaral para ser publicado por ocasião de posse de um de seus pterodátilos.

O Elogio da Mediocridade é o artigo mais impactante do livro de Amadeu Amaral. Fala sobre a importância de escrever e a efemeridade do ato.

Nacos:
Criticastro – crítico réles
Literataço – literato pretensioso.
Quiriri – Povo do nordeste da Bahia.
Tingui – Planta que envenena a água para pescar. Também timbó.

Segui il tuo corso e lacia di le sentire!


Catatau de Paulo Leminski

Parei na pg 19. É intragável, o poeta deixa a poesia para fazer filosofia e sociologia e termina escrevendo um monte de besteiras numa linha trotskista.

No entanto, foi bom poeta. Criou versos com a sensibilidade de um Drummond.


Cosme Ferreira Filho – Borracha, o Problema Brasileiro (de 1938)

Importante analista da produção da borracha. Fala, por exemplo, das quantidades produzidas de 1906 a 1937 em todo o mundo, apontando a decadência brasileira e a decuplicação asiática. E comenta sobre a lavagem, laminação e exsicação (secagem) da borracha como atividade industrial indispensável para a concorrência do produto no mercado internacional, já que uma das causas apontada por ele para nosso declínio seria a existência de 23% de resíduos em nossa borracha. Afirma que parcialmente esta atividade teria sido implementada no Amazonas, e que as impurezas teriam sido a causa da preferência pela borracha asiática. A proposta de Cosme Ferreira, a despeito de sua importância na análise da produção, repete o mesmo fracasso do Instituto Brasileiro do Café, qual seja, a de transformar em autarquia a produção nacional sob vigilância do Estado.


A questão em 1880, segundo Pimenta Bueno, transcrito por Cosme Ferreira Filho, afirma que o fisco e os coronéis enriqueciam, enquanto o seringalista empobrecia. Cosme Ferreira Filho se insere na consciência nacional de que um governo construído por homens diligentes e sábios seria capaz de alavancar o progresso nacional e promover a riqueza do país. Nesse sentido, o capital privado seria submetido a uma regulação tal que desempenhasse sua função social de distribuição de riqueza. É a mentalidade anticapitalista que nos define desde o império e está na raíz atávica da brasilidade: o imaginário tomado pelo desejo de solucionar as coisas do país com a intervenção correta do governo. Carecendo da espontaneidade capitalista, desconhecendo que a ausência de governo é mais produtiva que sua presença, o brasileiro se revolta com semelhante ideia porque não imagina como pode uma produção estar escorada em uma sociedade que não promove a infraestrutura necessária ao desenvolvimento. Imagina assim, que deve haver uma harmonia entre governo e capital, comprovando empiricamente pela pena de nossos analistas, que somos um país de formatação fascista e que o socialismo não é nada mais do que uma acomodação ao caldo de cultura existente, e, portanto, tão poderoso quanto possa ser nosso instinto estatista.


José Lins do Rego – Fogo Morto

Na primeira parte, assistimos a uma zanga geral do seleiro José Amaro contra todos os homens e a família. Só há descontentamento, deboche, desejo de vingança e desentendimentos, até que o dono da fazenda, um tal de Lula, manda o seleiro escafeder-se de suas terras. Acusado de lobisomem, é a filha quem enlouquece. Nem mesmo sua mulher lhe aguenta o gênio. Na segunda parte vemos a história de Santa Rosa, de como a família Cabral de Melo casou a filha com Lula que deve se tornar o herdeiro das terras. Mas a filha está gravemente enferma no Recife, um negro foge da fazenda, é perseguido e encontrado em Goiás, recapturado e castigado, quando a filha retorna sã e contente para casa com Lula de Holanda.

“Une journée de dupes” – o dia dos logrados em francês por terem sido iludidos na tentativa de deposição do cardeal Richilieu em Paris. Me senti logrado lendo Fogo Morto. Mas o público brasileiro, que adora música sertaneja, também aprecia uma história de cangaço. É só isso.


Carlos Wagner – O Brasil de Bombachas

Conta a saga dos gaúchos em direção ao norte, povoando desde o oeste catarinense, sudoeste paranaense, Mato Grosso em diante até o oeste baiano e sul maranhense.

Trata-se de material para um doutorado em sociologia que procure apontar como os descendentes de imigrantes, com sua cultura própria e sem os traços do estatismo brasileiro, discriminador, exorbitante e excludente, construiram um país diferente, mais íntegro, menos malandro, mais assertivo e menos coitadista, mais cordial e menos energúmeno. Um país totalmente diferente daquele que encontramos nas capitais dos estados, onde as nódoas do despotismo secular ainda pervade as consciências. Outro livro, comentado em Fragmentos 23, é Um Brasil Diferente, de Wilson Martins que descreve a saga da colonização no Paraná.
Espampanante – espalhafatoso, vistoso.


Luis Gama – Poemas Satíricos

Pg 30 → Sortimento de Gorros – longo poema de crítica social e política dos costumes da corte carioca. Havia um tom constante de repúdio ao pedantismo, aos trejeitos e a hipocrisia que levantava penas de críticos, jornalistas e poetas no período. Luis Gama não foi diferente e mostrou talento para rimas e conteúdo.

Pg 35 → O velho Namorado – Baixo, barrigudo, nariz de cupido, um velho cai de amores por uma moça e se apresenta na casa da pretensa sogra para pedir a moçoila em casamento. Tudo em versos bem trinchados, finalizando com a desprezível resposta da moçoila e a retirada do velho envergonhado.

Nacos:
cudilhado – lixado, fodido.
Trabuzana – 1. tempestade, tormenta. 2. protesto e agitação com grande nr. de pessoas. 3. briga de grande nr de pessoas. 4. indigestão. 5. tristeza, maçada. .6. sujeito valentão
Catrambiado – aborrecido, amuado.
Tredo – traição, traiçoeiro, traidor.
Manducar – ingerir alimento.

Pharmacopéa é um poema satírico excelente.
Que mundo é este? Muito bom.
PRIMEIRAS TROVAS BURLESCAS DE GETULINO
A cultura de casquinha
O essencial “nearer the bone”, “le mot juste”.

Pg 40 – são muito poucos os livros que um homem necessita ler para conhecer o seu rumo... “Poesia de perucas e caracóis, de chinós e pantorrilhas acolchoadas, de aranzel [discurso enfadonho, arenga] à Luis XIV”.

Goncourt ‐ prêmio literário francês.
Cuistre – francês: pedante, leitor ligeiro.
A lei babuína [anacrônica] continua lá
O monge Ganbert de Poicebot pg 105.
Interessante como as sátiras medievais reprovavam os falsos clérigos.
Tempos gangrenosos.
Pg 121: “ironista é aquele que sugere ao leitor que pense e, não sendo este processo natural à maioria da humanidade, o caminho do ironista está coberto de ciladas e espinheiros”.


Pierre Clastres – A Sociedade Contra o Estado

Funções de chefia:
1) Fazer a paz → instância moderadora;
2) Ser generoso com seus bens;
3) Ser bom orador;
4) Poligamia;
Comunidades matrilocal e patrilocal;
matrilocal → as netas ficam;
patrilocal → os netos ficam.

Em artigos na Revista Vuelta Clastres critica acerrimamente a corrente antropológica nascida do estruturalismo francês, mostrando que os conceitos marxistas de origem do homem são não só equivocados como ridículos.

Em A Sociedade Contra o Estado (1978) reúne artigos de Clastres em seus estudos antropológicos no Brasil e adjacências.

O título refere-se ao último artigo dos 11 que contém esta edição de 1978. Trata de Elementos de demografia ameríndia, o arco e o cesto, de que riem os índios, a chefia como monopólio da palavra ou do discurso, e até sobre a tortura nas sociedades primitivas. Um livro para ser relido.

Conheci Clastres de Vuelta e pretendo postar um artigo meu no blog Ensaios.

Pg. 108: Os cantos dos Guayakis nos remetem a uma dupla e essencial função da linguagem que se apoia tanto na sua função de comunicação aberta como em sua função fechada de constituição de um Ego: essa capacidade da linguagem exercer funções inversas repousa sobre a possibilidade de seu desdobramento em signo e valor.

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Pg. 128: Aqui emerge uma função catártica do mito, por assim dizer: na sua narrativa ele liberta uma das paixões dos Índios, a secreta obsessão de rir daquilo que se teme. Ele desvaloriza no plano da linguagem uma coisa que não pode ser tomada em realidade, e manifestando no riso um equivalente da morte nos instrui que entre os índios o ridículo mata.

Do ponto de vista antropológico, seu trabalho apontava para uma grande conquista nas ciências humanas, alcançadas modestamente devido ao seu falecimento prematuro aos 43 anos em 1977.

Nacos:
O gai savoir – o saber pelo riso.
Esclerótico → sofocleto e etilometamórfico.
Uma ideia um tanto espírito porcina.
Onestaldo → nome horrível (deve ser de juiz)
O caso da dentadura é uma crônica cômica ótima para um curta metragem.
Miss Calipiginópolis
Rapazes capilungos –
Sem samba, sem telecoteco –
Expensive lady – Cara senhora.
Tão semostradeira, tão rebite.
Poeta amador, a ses heures!...


Guilherme de Figueiredo – A Pluma e o Vento – 1977

Saborosas crônicas brasileiras de um viajante, as vezes como diplomata, sobre nossas curiosidades das quais destaco, Cobras e Lagartos (transcrita no facebook). Fala de sua família e de uma tia-avó poeta que fazia versos escatológicos. Fiquei sabendo que Toscanini iniciou sua carreira de maestro no Brasil, no episódio em que foi resgatado de um bordel direto para o teatro Municipal, devido a um mal súbito do regente, o qual teria dito ao ser convocado urgentemente na porta do quarto: “l'amore é piu importante che l'arte”.

Fala também de seus amigos de geração, como Érico Veríssimo, Murilo Mendes, Alphonsus Guimarães.


Guilherme de Figueiredo – O Homem e a Sombra – 1986

5 contos, Xangô, De gula, Para se ouvir de noite, O homem e a sombra, Rondinella. Destaco De gula pela erudição com que narra um banquete no tempo de Nero e Rondinella, conto ao estilo de Lobato de sensibilidade aos costumes brasileiros. O filho tímido e sorumbático de uma família abastada casa com a filha de um imigrante italiano e leva-a para morar na casa dos pais. Os desentendimentos com a família e, especialmente, com a irmã solteirona, precipita a tragédia que a leva ao suicídio.


João Felício dos Santos – Ataíde, Azul e Vermelho

De início a surpresa com uma narrativa que parece de um sucessor de Adelino Magalhães e predecessor de Guimarães Rosa. Mas com seu traquejo próprio. Excelente para o estudo das formas de expressão narrativa da literatura brasileira. Um inovador.

Pg 21 – excelente descrição erótica.

Acho João Felício dos Santos outro grande prosador extraviado no nosso mundo de gênios esquecidos. Ataíde, Azul e Vermelho, uma recriação da vida de Manoel da Costa Ataíde, o grande pintor de Vila Rica, Mariana, Congonhas e adjacências, no tempo do Aleijadinho e da conspiração mineira do final do século XVIII. João Felício fez um grande livro, um excelente romance de amor cortês da época, na figura de um pintor que é também um auto-retrato do autor. Nada mais íntimo do que fazer da narrativa barroca a própria alegoria da pintura.

Nacos:
Ungundo
Estopinha – falar muito, falador.
Marrufa – mau pintor, pintura malfeita, mamarracho.
Comilhos genolinados.
Biongo – vendinha, botequim, choça, palhoça.
Gerotoxos esbranquiçados do velho.
Jalde (jalne) – amarelo vivo, dourado
zagucho [muito esperto, muito vivo] de ação. [um gaúcho zagucho]
Janelas de muxarabis (muxarabiê) – Balão mourisco protegido por uma reixa na janela.
Azevieira
Traquejado em talufaria – luxo exagerado, suntuoso (taful) de mau gosto.
Aquele bosta em forma de gente.
Inzonos (inzoneiros?) - intriga, mexirico. Embuste, logro
Enrilhação de sopapo
Endurecimento da carne


João Felício dos Santos – Os Trilhos

JFS deveria ser usado como estudo de estilos literários em salas de aula. Sua linguagem, já carregada com os tons característicos da malandragem em Ataíde, Azul e Vermelho, adquire substância estética impressionante para descrever o subcapitalismo brasileiro. Considero Os Trilhos uma obra prima. Trata-se de um mestre nas catacumbas da cultura frívola dos nossos tempos. Jamais li uma adequação da linguagem tão precisa com uma realidade social.

A novela trata de um grupo de marginalizados que invade um terreno próximo a uma grande fábrica desativada, por onde passam os trilhos de uma antiga estrada de ferro. Cada personagem exerce seu papel de sobrevivência na selva empedrada do Rio de Janeiro. Golpistas, prostitutas, rufiões e bêbados compõem o grupo que, liderado por um velho em fim de vida, resolve resistir a uma ação de despejo. Espero que o Brasil redescubra JFelício.

Nacos:
Ulos – urros, gritos
bagarotes – dinheiro
Coração papocando...
Personagens de JFS: Cremilda Não Vá – Mané Grande – Rocambole.
Fosforescências súbitas--


Evaristo de Moraes Filho — Medo à Utopia

Procurar em Ernesto Bloch o Princípio da Esperança.

Evaristo desconsidera alguns pontos importantes da questão Romero x Barreto:
1) No século XIX toda a filosofia crítica do direito, ficção e poesia era abrigada na classificação guarda-chuva da Literatura.
2) A questão da avaliação da obra literária é tão ou mais importante em Romero que sua crítica da filosofia.
3) A comparação de Machado à Barreto no livro que Romero dedicou a Machado de Assis é assimétrica, pois se Romero comparou escritores diferentes em temas, demonstrou didaticamente as questões de estilo, colocando os senões merecidos na obra machadiana.

Cita Oliveira Viana, à pag 121 – Os 2 partidos do império …. não tinham opinião, como não tinham programas, o seu objetivo era a conquista do poder e, conquistado este, conservá-lo a todo transe. Nada mais. Era este o principal programa dos liberais, como era dos conservadores... Em nosso país... os partidos não disputam o poder para realizar ideias: o poder é disputado pelos proventos que concede aos políticos e aos seus clãs. Há os proventos materiais que esta posse também dá. Entre nós a Política é, antes de tudo, um meio de vida: vive-se do Estado como se vive da Lavoura, do Comércio e da Indústria, e todos acham infinitamente mais doce viver do Estado do que qualquer outra coisa”.

Ler Alberto Torres para completar este ciclo.

Dante Moreira Leite – O caráter nacional brasileiro.

Erra Evaristo em considerar hesitação o que não passava de convicção em Tobias; erra novamente ao colocar em sua personalidade a evitação à utopia (que Evaristo considera no socialismo nascente) como fruto de suas vacilações e não de sua discordância serena. O fato de Tobias ter sido um crítico social afinado, não o tornou um romântico utopista exatamente por força de sua erudição e não por falta dela.
Ele não foi um reformista social e Evaristo lamenta profundamente, chegando a afirmar que era o que o novo século esperava dele. Tenho dúvida se devemos esperar de alguém aquilo que ele não pode dar por falta de espírito de adesão, como era o caso dos republicanos.

Reler sobre o caráter nacional e fazer anotações.

Evaristo chama Sylvio de marxista às avessas, o que é curioso.

Gobineau – Lettres brésiliennes:

Pg 268 – citação jocosa sobre o desaparecimento do brasileiro como única condição de corrigir o Brasil.

Mas por que Sylvio Romero deveria ser simpático ao socialismo, se era leitor de Le Bon? Evaristo parece não entender que a revolta contra nosso atraso nos levou ao socialismo por engano.

Nacos:
Valetudinário – adoecido, convalescido, combalido.
Ziquizira – má sorte, azar, urucubaca
A preta dos pesados irocos e engoços
colcha esmulambada
Camborro – amante, amásio
Pixirica – exame ginecológico.


Nelson Rodrigues – Flor de Obsessão

Pg 59: historicamente não existe mais esquerda. O que vemos, com o socialismo, comunismo ou que nome tenha, é a direita na sua forma mais inumana, bestial, demoníaca.

Não há ninguém mais bobo que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.

Pg 63: Quando o sujeito é uma besta que não sabe fazer nada, faz filhos.

Pg 85: perguntaram, outro dia, a um amigo meu: 'você é de direita ou esquerda?' Ele calcou a brasa do cigarro no cinzeiro e respondeu: 'não sou canalha'. Ninguém entendeu. Houve aquele suspense irrespirável. Nova pergunta: 'como assim?' E o amigo: 'o canalha joga em qualquer posição'. E não disse mais uma palavra. Mas, se bem entendi, ele insinuou o seguinte: 'só o canalha precisa de uma ideologia que o justifique e absolva'.

Como são parecidos os radicais de esquerda e direita! Dirá alguém que as intenções são semelhantes. Não. Mil vezes não. Um canalha é exatamente igual a outro canalha.

Digo que sou reacionário e as pessoas acreditam. Será que vou ter de por uma placa explicando: 'isto é uma piada'. O que eu sou, profundamente, é um libertário. Pg 143.

No ano de 2010 o Brasil será maior do que os Estados Unidos, a Rússia e qualquer outro. O Brasil é que dirá a grande Palavra Nova. [Puxa, que resvalada na esperança, ele que era tão cético!!!]


Coelho Neto – A Conquista – 1899

No prefácio, Franklin de Oliveira pergunta: “por que o parnasianismo durou tanto entre nós? Seria por que correspondia ao nosso gosto pela eloquência, ao nosso amor pela frase arredondada, à nossa inclinação ao pomposo? … Coelho Neto atirava sobre o pensamento o manto da palavra, sufocando-o em grossa envoltura fraseológica, sepultando-o sob o peso de vestimentas vocabulares sobrecarregadas de ouropéis e pechisbeques semânticos que só enganam os que não sabem pensar”.

Exagero indesculpável. Apenas alguns períodos podem ser caracterizados como excessivamente sobrecarregados. O que chama atenção em Coelho Neto é a preciosidade da frase. Preciosidade onde a riqueza vocabular vem perfeitamente ajustada à ideia. Se o parnasianismo de CN é excessivo, pelo sobreuso de alegorias greco-romanas, ele não deixa de ser correto, pois não se engana em seu uso referencial.

O que acontece com Franklin ocorreu com a época que seguiu o estilo machadiano e se transformou em realismo socialista (Jorge Amado, Graciliano): a opção pela “ideia nua, à ideia que se sustenta em sua própria arquitetura conceitual, que se basta a si mesma, apenas amparada nos seus travejamentos lógicos”.

Era o que Mario de Andrade chamou de Orientalismos Convencionais, para criticar o parnasianismo. Mas o que diz A Conquista?

Pg 173: “Senhor, o ideal do artista é a simplicidade. Há a simplicidade-pobreza, que facilmente se reconhece e há a simplicidade-distinção; e é mais difícil ser sóbrio do que ser abundante. Mas vocês não entendem assim: para exprimirem a coisa mais comezinha deste mundo deitam abaixo dicionários, é uma mania”.

Isto significa que CN já esta ciente do esgotamento do parnasianismo. E comprova que estava anacrônico, tanto é que mudou mais tarde de estilo, como indico na crítica do próximo livro dele. A edição tem diversos erros de revisão e de notação, como diálogos misturados à voz do narrador.

Como se vê, o pomposo excessivo não se encerrava em si mesmo. Coelho Neto foi um grande romancista a quem a crítica só viu o barroco, esquecendo o conteúdo, que era dos melhores. Ele soube interpretar muito bem a alma brasileira e deveria ser recomendado como escritor exemplar em seu estilo, pois A Conquista retrata muito bem a narrativa parnasiana. Por que um escritor iria adornar as frases para “obtinerem colore” se poderia escrever em uma linguagem despojada? Por que a obsessão pelo brilho, pela refulgência verbal, se o mesmo pode ser dito frivolamente? O modernismo brasileiro infelizmente fez da literatura uma digressão do jornalismo e criou gerações inteiras de maus escritores, péssimos novelistas sem qualquer erudição verbal, sem qualquer conhecimento mais fundo dos tesouros linguísticos que herdamos. E Franklin de Oliveira foi atrás da toada.

Nacos:
Sem chirinolas [armadilhas e confusões, coisa que ninguém entende] e saracoteios. Espivitada [sapeca, marota] e zarelha – mulher que se intromete em tudo.
Espículo [ponta] de uma sarissa [lança] grega.
Hanyu pinyin – sistema para romanizar a língua chinesa da década de 50.
Tong yong pinyin – romanização do ano de 2002. A esperança da China seguir o Vietnã, que romanizou a escrita, não ocorreu.

Coelho Neto descreve as ruas como incorporadas num adjetivo para seus nomes – pgs 557 e sts:
A rua Senhor dos Passos é imoral e imunda...
A rua Sete de Setembro é delambida e rameira...
A rua da Conceição é desconfiada...
A rua do Ouvidor é trêfega.
Zungum

“Nunca se deve matar uma ilusão que é matéria-prima da esperança”.

Coelho Netto descreve a mudança dos móveis do alojamento dos estudantes no Rio carregada por um escravo, e não pelos próprios estudantes, como um costume da escravidão. Isto me lembrou minha adolescência, onde um amigo meu tinha vergonha de carregar objetos pela rua. Este amigo tinha um sentimento elitista deixado pelo mundo colonial, pois seria uma tarefa somente aceitável para escravos. E era (suponho que continua sendo) socialista, atribuindo a classe operária a redenção do mundo, desde que, naturalmente, suas tarefas não sejam obrigatórias para ele.

No capítulo XXIII, A Conquista trata do abolicionismo em sua introdução. No cap XXVII fala do 13 de maio e da votação para a extinção da escravidão no Brasil. Critica, a seguir, a necessidade de orientalismos nos escritores, pois “é mais fácil fazer a pompa do que a verdade”.

Nacos:
Esbarrondado – malograr, cair, despencar.
Aflavam bandeiras em triunfo.
Charola – andor para imagem religiosa, nicho. Levar em charola, levar nos ombros em triunfo.
O povo está com delírio epilatório.
Sanefas – espécie de cortinado, tira de cortina.
Corimbos – modo de inflorescência em que os pedúnculos se alinham na mesma altura.
Cordelejo – repreensão, rabecada.
Algibebe – vendedor de roupas novas ou usadas.
Biltre – canalha, infame.
Corbulídeo – molusco lamibrânquio.
Alfurja – esterqueira, monturo.
Sarçal – espinal, silvado, sarça
Carambina – caramelo, gelo pendente dos telhados, sincelo.
De cambulhada: no atropelo, confusão, desordem.


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