com pocos, pero doctos, libros juntos,
vivo en conversación com los difuntos
y escucho com mis ojos a los muertos"
Quevedo
Roberto Campos – A Lanterna na Popa. TOP Books 1994
Mais de 1300 páginas de memórias de Bob Fields, desde seu início de carreira na diplomacia brasileira no tempo de Getúlio Vargas.
O estilo de Campos consiste na descrição de sua participação em episódios importantes do mundo, mesclado com piadas sobre as principais personalidades de seu tempo.
“Potomac fever” – expressão de Truman para descrever a transmutação psicológica das pessoas quando chamadas a participar do poder.
Eu diria que no Brasil existe uma febre semelhante quando se tornam funcionários públicos de alto escalão, como deputados, juízes, fiscais, tributaristas, etc, mas que nunca foi criado por um autor, e muito menos por Campos.
Quem quer ter um amigo em Washington – diz ele (Truman) – compre um cachorro.
A cosmovisão americana.
Os atributos fundibulares. (que se usa a funda como arma, isto é, qualidade de atirar nos outros de forma primitiva).
As 3 pgs do capítulo “Democracia Sem Democratice” (242-245) merecem publicação no facebook. Um presidente do BNDE corrupto, ou que ao menos pesavam suspeitas, era chamado de PERCENTAURO DOS PAMPAS por Carlos Lacerda.
PANACHE
Clivagens mais profundas
Intelectuais enragés – dos petistas ao Olavo de Carvalho.
Estado espoleta – deflagra um processo de industrialização num determinado setor, mas transfere a responsabilidade tão rapidamente quanto possível à iniciativa privada.
Pg 343 – Como era fácil ser profeta, encerra RC a sua análise sobre a crise cambial de 1958, advertida inúmeras vezes sobre o problema do câmbio valorizado.
Juscelino teve um minienfarte e mandou Armando Falcão (ministro da justiça) fazer o discurso de 31 de dezembro alegando gripe e afonia para não ter de passar o governo a Jango que via mais como um “chefe de quadrilha” do que um “chefe de estado”.
Os acordos de Roboré falam da aquisição do direito de exploração de petróleo na Bolívia desde 1938 (pg 365).
RC critica a postura de Lacerda como “movida pela obsessão de criar dificuldades ao governo ainda que com isso o maior sofredor fosse a própria nação”. Aí discordei, mas entendo que Lacerda teve desentendimentos com a Revolução de 64 (Ver seu livro "Depoimentos") e estava na linha de conflito com RC. A promessa da Revolução de 64 de eleições para 1966 acabou cancelada por um ato institucional que serviu de instrumento para o fechamento do regime com edições sucessivas até o famigerado AI-5. Em consequência, os liberais que apoiaram o movimento militar de 64, começaram a cair fora a partir desta data.
O Brasil tem vários tipos de nacionalismo. Um deles é o demagógico, cuja raiz é psicossocial, traduzida num simples complexo de inferioridade ante o estrangeiro e num processo inconsciente de transferir para o exterior a culpa pelo nosso atraso. RC não fala em vitimismo nesta época. Pg 374.
Outro tipo de nacionalismo é o estatista, frequente sobretudo nas regiões mais subdesenvolvidas do país, onde a iniciativa privada se apresenta com caráter feudal e o Estado, como agente omisso, porém paternal. Há um nacionalismo monopolístico, explorado por alguns industriais que desejam criar uma tarifa política (além da aduaneira) que impeça o ingresso de competidores estrangeiros.
Fala da ZOFRAN → zona franca para processamento de exportações a ser instalada em Santa Cruz, antecedendo Hong Kong, Cingapura, etc.
Pg 395 → sobre o financiamento de dívidas vencidas com a Shell: “o Brasil, orgulhoso na rejeição de capitais estrangeiros para a pesquisa de petróleo, não tinha dinheiro sequer para pagar as contas diárias da importação de combustível”.
RC NÃO DESCONFIA NUNCA QUE O PAPEL DOS LIBERAIS FOI SEMPRE O DE SALVA-VIDAS DOS NACIONALISMOS.
E não deixa claro o seguinte: os grandes avanços do Brasil são feitos por equipes técnicas que são capazes de oferecer soluções que o mundo político aceita sem compreender totalmente, para nossa felicidade. Meu testemunho é que as privatizações da Era FHC foram muito mais avançadas que a capacidade teórica de FHC. Elas foram forçadas pelo escolho estatal deixado pela ditadura, e se colocaram no caminho de inovação para acabar com a crise financeira.
Na década de 60, o primeiro-ministro Ikeda lançava seu programa de “duplicação da renda nacional em 10 anos”, objetivo alcançado em apenas 7 anos.
Pg 483 – Resposta de Jango aos confiscos de Brizola em viagem aos EUA em 1962: “O Brasil, ao nacionalizar as empresas americanas de serviços públicos (no RS incluía-se a concessionária de energia elétrica), simplesmente reconhecia que, com a desatualização tarifária e subsequente deterioração dos serviços, as empresas neste setor se haviam tornado impopulares e fontes de mal-entendidos mas que desejava que estes capitais fossem para outros setores da economia, onde sua colaboração seria bem vinda”.
Pg 520 – RC fala do setor de telecom e seu surgimento a partir do irrealismo tarifário da época.
No capítulo Frustrações da Aliança para o Progresso, delineia com clareza o problema da falta de empolgação nos planos econômicos. “Um aspecto negativo foi que os líderes latino-americanos nunca empalmaram a Aliança como projeto “nacional” em seus países. Faltava-lhe a aura emocional, e a participação quase religiosa, característica do nacionalismo e do comunismo. Mais tarde eu viria a perceber que essa baixa capacidade de produzir mitos é característica tanto do capitalismo como da democracia. Produzem resultados práticos, mas é diminuta sua capacidade de fabricar mitos. O socialismo, de outro lado, é mais forte na produção de mitos que de resultados” (pg 532).
RC repete os fatos em cada capítulo no sentido de aglutinar a miríade de acontecimentos numa sucessão lógica tal que explique as prioridades do mundo em um momento específico, alongando suas memórias para justificar as controvérsias políticas.
O senso de humor “pudor da razão perante a vida” segundo Raul Pederneiras. RC classifica os governos brasileiros em governos empreiteiras e governos contadores. Os primeiros se encarregam de gastar e os segundos, de pagar a conta.
A revolução de 64 não seria como dizia Balzac a propósito de Napoleão: “apenas uma opinião que encontrou suas baionetas”.
“A última das crises era a de motivação. Não existia nenhum projeto nacional de desenvolvimento capaz de traçar rumos e aliciar o entusiasmo da população. Pg 576.
RC fala dos políticos como se fossem todos iguais, jogando-os na esteira comum do nacionalismo. Trata-se da visão do tecnocrata, a quem os políticos (Lacerda, Brizola) sempre são o principal obstáculo ao avanço econômico.
RC explica a fase de estatização no governo Castelo Branco na questão das indenizações às empresas estrangeiras nacionalizadas por Brizola (AMFORP, ITT). Justifica a estatização devido às dificuldades tarifárias. Mas não convence. Creio que a persistência da inflação está associada a estas grandes estatizações embora ele jamais admitiria isto.
Criou em 1965 o Consplan – Conselho de Planejamento, por ele chamado de mecanismo “participativo” baseado na consulta a setores e grupos de interesses que passariam a fazer avaliações críticas à nova política econômica. 4 representantes trabalhistas, 4 da indústria, 1 do conselho nacional de economia, 4 profissionais (Crea, Sociologia, Economia), 3 representantes das estatais e 1 da imprensa.
Pg 608 - Chama Gasparian de burguês de esquerda que praticava o “capitalismo de balcão” e um “socialismo de salão”.
Lacerda tinha outra ideia do planejamento, que ele chamava de oportunista, capaz de aproveitar os fatores favoráveis.
O planejamento consistiu em intervenções do tipo prescritivo e não proscritivo: em incentivos e recomendações e não em proibições.
Caritocrata – Tendência dos padres da igreja de verem a solução de problemas econômicos na Caridade.
Helio Beltrão foi designado em outubro de 64 para presidir a Conestra (Comissão Especial de Reforma Administrativa). Ele pregava 4 pontos principais na reforma: a presunção de confiança (confiar nas pessoas e nos seus critérios de julgamento); a presunção de veracidade (acreditar que as pessoas dizem a verdade); o desapego ao fetichismo dos documentos e a coragem de pagar o preço; pela simplificação e dinamismo, eliminando-se custosos controles.
Jari – 70 anos de história de Cristóvão Lima.
Castelo considerava a Amazônia um mundo inacabado, onde o homem se sentia um “intruso impertinente”. Aí tem qualquer coisa de Euclydes.
Jorge de Melo Flores – o partido político que faltava. Gilberto Paim – Petrobras – um monopólio em fim de linha. [Li e gostei].
Na discussão sobre o texto constitucional de 1967, a questão do monopólio do petróleo teve grande debate. RC foi o mais pertinaz combatente. Cita Castelo Branco, a quem para “se eliminar o tabu do monopólio seria necessário um longo esforço de reeducação dos militares que, falaciosamente, associavam a ideia de monopólio à exigência de segurança nacional, quando na realidade o contrário acontecia”. Pg 793.
Ver a citação do discurso de Castelo na pg 804 sobre a situação partidária.
“A pluralidade partidária passou a ser promiscuidade partidária; os programas dos partidos perderam seu sentido de compromisso dos representantes para com os representados; e a indisciplina partidária ameaçava converter a tarefa do governo, de um esforço racional de persuasão, numa transação de interesses pessoais”.
Gilberto Amado: As Instituições Políticas e o Meio Social do Brasil – 1916 Eleição e Representação – 1932.
A meu ver o desenvolvimento do Brasil tem sido obstaculizado muito mais pelas irracionalidades internas do que pela falta de cooperação externa. Pg 864.
Referente ao processo inflacionário cita as 3 defasagens da teoria do prof. Haberler:
1) defasagem de diagnóstico;
2) defasagem administrativa;
3) defasagem operacional e acrescenta de sua lavra uma;
4) defasagem política.
Pg 896: Momento de crise: capítulo que expõe os danosos efeitos da Petrobras, como fornecedora de nafta às refinarias privadas, como a Petroquímica União.
Tipos de mulheres:
Calipígias:
Platipígias – largas, com acúmulo de gorduras na ancas;
Fundibulares – que atira com a funda, ou seja ….
Santiago Dantas: a imprensa de oposição é o melhor supositório da democracia.
Dilma segue fielmente os conselhos do escritor Eric Maria Remarque: “não perca sua ignorância. É uma coisa que você não pode substituir”.
Ortega y Gasset chamava o conflito de direita e esquerda de hemiplegia mental.
Repristinação [repristinização]: uma lei revogada por outra é revogada por uma terceira lei que restabelece a primeira.
RC fala de suas peripécias na busca de empréstimos pela Europa e seus encontros com De Gaulle e Adenauer na Alemanha. Chega a ser constrangedor receber a contestação dos mandatários europeus sobre “como pode um país rico necessitar de dinheiro?” frente a uma Alemanha que ainda não tinha sido totalmente recuperada dos destroços, como narra da viagem efetuada em 1961.
Seu enfoque de memórias se centraliza mais no contato com personagens estrangeiros e na situação mundial que consome mais da metade das 1300 páginas de suas memórias, em repetições constantes e com motivações narcisísticas inescondíveis.
Max Weber: “aquele que busca a salvação das almas, sua e do próximo, não deve procurá-la nas avenidas da política”.
A crise da dívida externa
Ambivalência: querer investimentos estrangeiros sem investidores estrangeiros.
Escapismo: a busca de demônios externos para escapar da incompetência interna.
O bestiário demonológico variava com o tempo: os trustes do petróleo, o polvo canadense, remessa de lucros, perdas internacionais.
A ilusão transpositiva é a esperança de que, pelo subvencionamento de certos preços críticos, se consiga, de um lado, proteger o consumidor e, de outro, conter a onda inflacionária. Mas verdade é que se os subsídios são financiados pela emissão de moeda ou pela expansão da dívida pública, perde-se pela inflação o que se ganha pela subvenção. Pg 1075.
O Collor foi o primeiro presidente com eleições diretas depois da campanha das “diretas já”. RC chama de ingenuidade do passionalismo.
A Constituição de 1967 previa uma representação mínima de 4 delegados por estado e mais um delegado para cada 500 mil habitantes, combinando-se assim representação mínima com proporcionalidade eleitoral.
Isto seria alternado no governo Geisel com a criação do biônico.
Inflação → inflamação
lapsos linguae.
Interessante a passagem no senado não só pelas batalhas travadas como pelo seu erro em subestimar a batalha contra a inflação que travava FHC como ministro de Itamar Franco e que só depois de publicado o livro seria conhecido como Plano Real.
J. C. Mello – A incrível política nacional de Informática.
Nonchalance ==
Gilberto Paim – O computador faz política
O nacionalismo brasileiro não integra, divide. Apenas rejeita, não mobiliza. Satisfaz a necessidade primitiva de odiar. Mas a essência do problema não é amar nem odiar. É compreender.
A política como a arte de tornar possíveis as coisas impossíveis.
O estado aplastante – extenuado, fatigado, derrotado, vencido.
Coelho Neto: a alegria dispersa. A dor condensa.
Precauções → precalções.
Saputar – os hippies são epicenos – a elite, os happy-few.
Eugenio Gudin – Reflexões e Comentários 1970 – 1978 – Nova Fronteira 1978
EG fala de sua primeira visita aos EUA há + de 50 anos em que teve a impressão de que a meta da sociedade sem classes estava ali muito mais próxima de ser atingida do que na Rússia soviética, que disso faz profissão de fé. Pg 27
Sentimento de igualdade entre empregadores e empregados, ausência de convencionalismo e franqueza de expressão são categorias correntes nos EUA.
A delegação de poderes na Igreja (pg 28), fala dos relatórios da CNBB sobre a mentalidade dos padres em relação ao subdesenvolvimento.
A sinistrose – pgs 29 e 30
Pródromos
EG cita duas vezes a lei de Lester Pearson: “nenhuma criança deveria nascer indesejada”.
EG insiste na questão indireta do aborto quando fala na necessidade de apoio da Igreja ao princípio “no child should be born unwanted”.
Este assunto estava condicionado a explosão populacional da década de 70, onde as taxas de crescimento eram de 2,7% ao ano.
Pg 37 – capitais estrangeiros (copiar e colocar no fb)
Refinaria de Macabeiras no Maranhão: ficou só na terraplanagem e com custo de 1 bilhão.
Ceteris paribus -
“Não há maior tragédia do que uma hipótese destruída pelos fatos” - Aldous Huxley.
“O princípio de que a criança não deve ser contrariada é grande responsável pela agressividade na juventude” - EG pg 138.
1) Desinvestimentos – corresponde a depreciação dos equipamentos dos serviços públicos pelo abandono de sua conservação e renovação: estradas de ferro, energia elétrica, refinarias, etc.
2) Endividamento – saldo do balanço de pagamentos, dívida interna, etc...
Denuncia – terrorismo eleitoral
O Nordeste Agrícola – fala das barragens de Quixadá e Orós que EG participou da construção como engenheiro e da inexistência dos canais de irrigação.
Nacionalismo hirsuto.
Referindo-se (pg 217) a questão da absorção da poupança nacional pelo estado escreveu: “Nem se diga, como recentemente fizeram alguns dos melhores economistas do IPEA, que o Estado foi forçado na maioria dos casos a intervir e encampar, quando foi exatamente o contrário que se deu. Nas companhias e serviços públicos a recusa da concessão de tarifas adequadas levava as empresas a inanição e os serviços à decadência. Até que o governo encampava e logo duplicava as tarifas, além de criar os fundos de melhoramentos para suprir capital novo. As “bras” vieram uma atrás das outras: Petrobras, Eletrobras, Siderbras, Telebras, etc..
Ver o resto do artigo em que estabelece o aumento das despesas governamentais a partir de 1956 com a percentagem do PIB de 26,8 para 38,3 em 1962 (Juscelino – Jango).
Fala sobre as taxas parafiscais em que o tesouro extrai grande parte da poupança nacional de indivíduos e empresas. Ex:
1) Fundo de Marinha Mercante → 15% a 20% sobre os fretes
2) Imposto sobre energia elétrica p/ kw particular → 47%
3) Fundo Nacional de Telecomunicações → 30% sobre telefonia / telégrafo
4) Fundo de reaparelhamento dos portos → cujo montante as vezes supera as despesas portuárias
5) FGTS → para o BNH → 8% sobre salários
6) PIS → ½% sobre o faturamento bruto
7) BNDES → alimentado pelo tesouro.
Xerocar: O sentido da distensão. Pag 229. Fala do problema da democracia integral para um povo sem formação.
Ukase – uma ordem ou decreto emitido por uma autoridade (originalmente o imperador russo) estabelecendo uma norma.
Voluptas dolenti – prazer originado pela dor.
Pg 240: as agruras de empreiteiros e concessionárias do governo. Descreve como o governo foi açambarcando empresas estrangeiras e mergulhando os serviços no caos.
A noção de que o verdadeiro custo é o custo de substituição ainda não está arraigada nos círculos econômicos brasileiros. A ilusão monetária funciona nos meios comerciais e industriais, os quais se regozijam quando vendem por 30 aquilo que produziam por 20, sem perceber que esses 20 de custo valiam mais do que os 30 no momento da venda.
Ninguém geme para as paredes. Só quando há amigos ou parentes compadecidos para alvoroçar.
As leis de Parkinson e congêneres falam da elasticidade da burocracia com grande perspicácia para se entendê-la.
Canalha → frajola No capítulo VII (pgs 261 a 282) fala da estatização em diversos artigos. Mostra o empreendedorismo de 2 impérios, a Vale e a Petrobras na criação de subsidiárias e na asfixia das concorrentes como procedia a Petrobras. Deve ser escaneado.
Milton Friedman dizia que o desenvolvimento não é apenas uma questão de capital, porém de tecnologia pois que ela significa a remoção da ignorância.
Responsabilidade só existe se congregada com autoridade.
Fundamentos de Economia Monetária, é um tratado econômico que deve ter inspirado as escolas de economia para usar como livro texto. Li alguns capítulos em busca de esclarecimentos, mas descobri que os conceitos monetários não são pacíficos de polêmica e até mesmo de interpretação pessoal e contestação generalizada.
A economia monetária é uma ciência empírica que veio sofrendo metamorfoses ao longo da experiência humana, e prossegue cambiante ao sabor dos tempos e das crises, lastreada desde sua gênese pelo mais volátil dos sentimentos humanos: a confiança.
A leitura foi estimulante para conhecer as ideias deste precursor do liberalismo econômico no Brasil.
História da Inteligência Brasileira – Wilson Martins V5 (1897-1914)
Inicia com o Brasil Mental, analisando o início da República e os grandes embates de ideias da época. Fala de Sílvio Romero e sua controvérsia em torno da obra de Machado de Assis. W.M critica o caráter exagerado de Silvio R. E suas contradições, sem no entanto se posicionar sobre o autor de Dom Casmurro.
Como sempre, WM é rico em fontes bibliográficas e na composição dos episódios da época. As vezes parece que ele se perde, ou faz seu leitor se perder, na miríade de fatos.
Fala de Afonso Arinos em Pelo Sertão e suas transversalidades com Euclides da Cunha.
Coelho Neto – Excelente sátira: O Paraíso. “É um dos melhores livros de Coelho Neto, escrito com simplicidade e clareza, repleto de espírito, dotado de extraordinário ritmo narrativo e agudo espírito satírico. É uma obra que nos permite perceber o grande escritor que nele se perdeu pela obsessão do 'estilo' lexicográfico e da concepção literária da literatura”. Pg 46.
Ora, ora, aí está WM apequenado, o crítico que não foi escritor, o comentarista que não pôs as mãos no barro.
“Os prados viridentes da literatura” (verdejante, próspero).
Pateticamente WM coloca em uma página inteira a fotografia da dedicatória de José Veríssimo a Luis Guimarães e no verso o autógrafo de Cruz e Souza, em fotos inelegíveis.
Nacos:
Longanimidade – disposição para suportar com severidade e resignação as contrariedades, insultos, vexames e vitupérios.
Excruciar – atormentar, afligir, martirizar.
Cabrunco – pessoa muito feia. Cabrunco! Que sujeito horroroso.
Entanguida – enregelada
Adufe-
Rondó – tipo de música medieval.
Calceta – argola de ferro, pessoa condenada a trabalhos forçados.
Barregã – amásia, concubina
Raté (com pretensões a um simples diletante)
Caipira ou Piraquara -
Clarinadas
A Mocidade Morta – de Gonzaga Duque
Wilson Martins mantém seu espírito claudicante quanto a crítica ao estilo. Para um escritor, deplora o excesso ornamental, até render-se definitivamente na análise da prosa de Euclides. Pode-se perceber o abismo entre o crítico e o criador. De repente, acerta em cheio:
“A verdade é que Turbilhão (de Coelho Neto) pode ser visto como obra prima indiscutível, não apenas entre os livros de Coelho Neto, mas, ainda, entre os romances realistas universais. Escrito com sobriedade e vigor, estruturalmente perfeito, ele explora o drama característico das classes médias urbanas na grande cidade, o fascínio do dinheiro e do pecado, o horror da miséria e das privações, a prostituição de luxo, o jogo, o espiritismo, o caráter frouxo de Paulo e o espírito realista da irmã, o desajustamento da mãe numa sociedade cujos valores estão mudando, tudo isso faz de turbilhão uma obra certamente mais identificada que a de Machado de Assis com a existência cotidiana do 'novo' Rio de Janeiro, o Rio que se 'modernizara' nos inícios do século XX” (pg 316).
“Estas páginas estão certamente à altura do melhor Flaubert, e isso diz tudo, mas, ao que parece, nem o público brasileiro estava preparado para compreender esse realismo, nem era esse Coelho Neto que se havia configurado nos lugares-comuns dos juízos coletivos. Isso, e as esquematizações cronológicas da historiografia literária, que desautorizam tacitamente e por antecipação a existência de qualquer romance realista fora do “período realista”, explicam a “cegueira crítica” que até hoje excluiu Turbilhão das perspectivas estruturais do gênero “romance” em nossa literatura” (pg 317).
Hermes Fontes – Apoteoses
Antonil – O Brasil é o inferno dos negros, o purgatório dos brancos e o paraíso dos mulatos.
Um livro que é “um estiraço incolor e descosido de cabeceantes repetições, de indigentes lugares-comuns mal arregimentados a contrastarem solenemente com observações cediças e apreciações fatigantes que amarguram o mais complacente leitor” escreveu J. G. De Araujo Jorge sobre um livro de um autor russo que falava da vida de Jesus.
...“despejando no mercado intelectual verdadeira corrente de espurcícias” (pg 422). Espurcícia – imundice, sujeira, torpeza .
Sobre as precisões e realizações das estradas de ferro em 1907, ver pg. 431. Joseph L. Love → Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism.
Nacos
Almachio Diniz – A Carne de Jesus – livro excomungado. Apresenta Jesus como um degenerado físico e mental com ideias de perversão sexual, sendo impotente e estéril. É o amante impotente de Maria Madalena e de outras mulheres que o seguiam. Claudia, mulher corrupta e adúltera de Pôncio Pilatos, sente-se atraída por sua misteriosa beleza, persegue-o com repetidos avanços, mas nada consegue de efetivo, revelando então ao marido a incapacidade sexual de Jesus. Pg 441.
Alcides Maia – O fim do gaúcho
Ruínas Vivas
Simões Lopes Neto – Cancioneiro guasca.
Cornélio Pires (1884-1958) – Musa Caipira
Copiar “Dia da eleição” pg 446.
Carlos de Vasconcelos - “a caterva nóxia, o pegulhal nojento”.
Pegulhal – rebanho. Ovelhas que um pastor apascenta com as de seu patrão.
Nestor Vitor – Paris
Segundo WM é o melhor livro de viagem jamais escrito por brasileiro. E também Holanda de Ramalho Ortigão.
A rata literária.
“A roer as unhas dos pés”, esta figura esterquilínea que os piolhos vorazes tornaram precocemente calva.
Ia-se estabelecer a venalidade nos processos da imprensa nacional.
Sobre o apoio do jornalista Mário Rodrigues à candidatura do general Dantas Barreto à presidência da República, de resto repelida depois da passagem de Hermes da Fonseca, conclui que: “por mais que nos custe admiti-lo, a nostalgia da ditadura sempre foi e continua sendo uma das constantes na álgebra de nossa vida pública, solução única, e tanto mais eficaz se for militar, para livrar o país da corrupção irremediável a que o arrastam, por definição, os políticos civis” (pg 548)
Limpar o país da vermina política.
Impressionante a crítica a Rio Branco feita por João Ribeiro em O Imparcial de 20/12/1914 ...”jornalista que foi, não deixou um artigo; escritor, não deixou um livro, parlamentar, nunca fez um discurso. E, no entanto, o país não cessa em fazer-lhe homenagens”.
Hermes Fontes:
“as crenças se apresentam sob a aparência de ideias, para que as ideias, por sua vez, adquiram o caráter dogmático e indiscutível das crenças”. Pg 561.
WM apresenta Farias Brito em O Mundo Interior. Livro que pretende ser de filosofia mas que trata de combater o materialismo científico e enaltecer a religião.
O Volume V termina com um artigo escrito para O Estado de SP em que analisa a obra de Alberto Torres do ponto de vista de seu legado para a sociedade brasileira. Mostra como o nacionalismo serve em diferentes épocas à direita e depois à esquerda, especialmente para os anos 60, no período Goulart. O antiimperialismo de Alberto Torres expressa esse uso comum de que se valem diferentes momentos políticos nacionais e que são conhecidos pelo que Roberto Campos chamava de alianças sinistras entre esquerda e direita, especialmente nos anos 50 com a criação da Petrobras e nos anos 80 com a política de informática.
WM neste volume V deixa bem claro seu estilo compilativo, amontoando livros e autores a ponto de não se saber quem está sendo citado. A sucessão demonstra que ele agregava resumos independentes, formando um capítulo e pulando de assunto segundo um esquema cronológico. Se tivesse uma assessoria, teria criado uma enciclopédia. Em todo o caso, sua obra é de referência fundamental. As vezes se engana, como foi o caso de Carlos de Vasconcelos, a quem interpretou como provinciano, embora WM não tenha lido Pró-Pátria e tenha citado o livro. Este fato é comprovado por não ter falado em nenhum momento da crise da borracha de 1908. O provincianismo atribuído a Carlos de Vasconcelos deve ser devido ao seu deslumbramento com o desenvolvimento dos Estados Unidos. Esqueceu que engenheiro só é autêntico quando possui esta capacidade ordenada, instrumental de se deslumbrar com obras e realizações humanas.
Manoel Bomfim – América Latina – Males de Origem
Inicia analisando a má reputação da AL na Europa, tanto pela imprensa de esquerda como de direita. A visão geral era de um continente perdido para as altas conquistas da civilização, convulsionado por Revoluções periódicas dirigidas por caudilhos cujo único fim se reduzia à pilhagem.
Na segunda parte explora o esgotamento do modelo biológico de interpretação da sociedade legado pelo positivismo.
Depois traça o perfil da decadência do império espanhol voltando à analogia com a biologia para explicar a constituição dos organismos parasitas.
Bomfim descreve o período de formação das monarquias da Espanha e Portugal como o reinado da barbárie. As grandes navegações são descritas como pilhagem, assassinatos e despotismo sem limites ou contenção. Lembra o tom exacerbado de As Veias Abertas da AL de onde Galeano deve ter tirado inspiração.
A transformação do PREDATISMO em PARASITISMO seria o destino da AL.
Da razzia predadora ao parasitismo se trata de uma complementação. A tosquia regulada do país.
Nacos:
PSITACISMO – doença psíquica caracterizada pela repetição maquinal das palavras sem consciência do seu significado. Verborragia.
Razzia – pilhagem, roubo.
Procurar: Massari e Vandervelde : Parasitisme organique e parasitisme sociale.
Do parasitismo ao sedentarismo em que a decadência dá lugar a degenerescência.
Sobre os escravos enviados da África para o Brasil: “ainda em nossos dias um viajante viu na alfândega de Luanda a cadeira de mármore de onde o bispo, no cais, abençoava os rebanhos de negros que embarcavam para o Brasil”. Uma boa imagem cinematográfica para um documentário sobre a escravidão.
As levas de escravos iam batizados.
A quintessência do parasitismo eram as ordens religiosas. A fradaria enxameava.
Apesar do trabalho de Bomfim impressionar pela penetração profunda nos males do parasitismo, ele não transfere este fenômeno para o estatismo, e tampouco para a burocratização do país. Com tudo o que se possa objetar em Bomfim, ele não deve ser ignorado, pois é afinal, um pioneiro na qualificação do espírito nacional refratário ao capitalismo.
Antonio Paim – Momentos Decisivos na História do Brasil
Por que o Brasil optou pelo subdesenvolvimento? Esta tese poderia ser uma continuidade do trabalho de Bomfim, no entanto, segue outro rumo. PAIM atribui o primeiro momento a destruição provocada pela Inquisição no aparelho reprodutivo do ciclo açucareiro do século XVIII.
Irenismo – referente a D. Irineu (nascido entre 135 e 140), martirizado e depois santificado. Combateu o gnosticismo e favoreceu o debate aberto, estimulando o humanismo em geral e sendo o precursor do erasmismo em particular.
“Cujus regio ejus religio”.
Meu aforismo em 3/12/14: os gramáticos, esta categoria de pessoas cuja falta de inteligência vai precavida pela abundância de regras...
Uma observação interessante sobre a Inquisição é o fato do tribunal fazer acusações contra homens ilustrados, acusando-os de serem “estrangeirados”, semelhante a perseguição do stalinismo aos acusados de cosmopolitismo na exURSS. E acrescente-se que na Espanha havia o estatuto da limpeza de sangue, pelo qual eram investigadas as origens dos indiciados, semelhante ao nazismo.
O testamento de Dom Luis da Cunha de 1749 culpa a Inquisição pelo abandono da atividade econômica na maior parte de Portugal.
Antonio Paim comenta o fato de que os julgamentos eram verdadeiros rituais de gratificação e divertimento do populacho em ver pessoas condenadas e queimadas nas fogueiras. No Brasil do século XVIII a perseguição tinha intuitos de cobiça, pois tinha a finalidade de confiscar engenhos.
Na pg 151 retoma o argumento de que o declínio da produção do açúcar foi causado pela Inquisição. E fala dos números dos condenados mostrando como as fazendas foram dizimadas em poucos anos no Rio de Janeiro.
José Gonçalves Salvador escreveu sobre os Cristãos-Novos, Jesuítas e Inquisição.
A Paim desconhece a questão do populismo estatista na configuração da indústria de serviços. Na pg 242, sobre a criação da Telebras: “Quando da instauração do primeiro governo militar (64), a incapacidade das empresas existentes de atender à demanda estrangulava o desenvolvimento do conjunto da economia. Os militares promoveram a estatização do setor, logrando a inteira superação de tais limitações. O país passou a contar com o sistema telefônico e de comunicações, em geral dos mais eficientes”. Ledo engano. Na pg 282 retifica sua opinião ao dizer que “os serviços telefônicos estavam em mãos da iniciativa privada pela recusa do governo em adotar a política tarifária realista”. Exato. Todos sabem que o populismo expulsou primeiro as centrais elétricas e depois os investimentos em telefonia com capital externo pelo estrangulamento tarifário.
Colocando a Telebras na perspectiva de reserva de mercado, vemos que o sistema regride para a ótica colonial.
Com isso, era preciso chegar a conclusão que o Estado Patrimonial é uma criação do modelo político, assim como o sistema judiciário é criação da elite dos juízes. Em nenhum caso existe a mais leve possibilidade da sociedade ser a controladora do Estado pelo sistema eleitoral de revogação e eleição de mandatos.
Causa surpresa que (pgs 338-339) na análise da persistência da moral contrarreformista, coloque Silvio Romero como socialista precursor no Brasil, quando a leitura de sua obra não nos oferece nada de conteúdo socialista: ao contrário, ele conhecia Gustave Le Bon para se precaver de suas consequências.
A crítica que Antonio Cândido faz a Silvio Romero é justamente o fato de não ter sido socialista no início do século.
Peter Berger – A revolução capitalista.
Não concordo com o patrimonialismo como causa cultural. Acho que o cerne da questão é o estatismo de quem o patrimonialismo é apenas consequência.
Antonio Paim não aborda esta questão e não esclarece que a popularidade do socialismo entre nós é porque se trata de uma vertente do estatismo ainda não experimentada até a ascensão do petismo.
José Gonçalves Salvador – Cristãos-Novos, Jesuítas e Inquisição. Aspectos de sua atuação nas Capitanias do Sul 1530-1680
Na pag 151 cita números das condenações no Brasil para argumentar que o fim da cana-de-açúcar foi devido mais a Inquisição e confisco de propriedades do que ao mercado internacional. Conclusão duvidosa: temos as cifras do valor do açúcar no mercado internacional. O que ocorreu foi um fenômeno de acerbamento da espiral de crise em que os dois fenômenos atuaram conjuntamente para impossibilitar a recuperação da lavoura, produzindo uma decadência tão grande que criou implicações sócio-culturais com as dimensões de um estraçalhamento dos próprios valores cristãos.
Na pg 159 cita a ruína do comércio em Goa pelo horror dos mercadores ao tribunal do Santo Ofício. Isto na Índia!!!
Pg 160: “Pelo exposto verifica-se que a Inquisição vota um ódio cego à riqueza, sendo a questão religiosa um simples pretexto para estrangulá-la e torná-la impossível”. O certo seria dizer que o pretexto de ódio à riqueza faz com que a Inquisição (isto é, o Estado) se aproprie da riqueza em nome da ideologia da moral do bem comum.
Este mesmo espírito vai renascer nas invasões de propriedades como o MST e no socialismo bolivariano.
Ainda na pg 160: “muitas pessoas acreditam que essa preferência por perseguir pessoas de posse adviria das rendas que em seguida auferiam pelo confisco de seus bens. Mas esta seria uma lógica primária já que atuavam no sentido de secar a mesma fonte de onde provinham. O mais provável é que se tratasse de ódio irracional ao lucro e à riqueza, como procuraremos demonstrar em seguida”.
Ora, a reforma agrária tem como bandeira o ódio irracional ao agronegócio. Ela não está interessada em produzir, e nem sequer existe um parâmetro capaz de provar que uma propriedade retalhada em lotes produz mais do que antes da desapropriação* [*Um levantamento estatístico desta questão, isto é, produção antes e produção depois mais custo de capital de desapropriação, etc, mostraria como passamos do mito do latifúndio improdutivo para o mito da economia familiar improdutiva]. E, no entanto, sabemos que as desapropriações passam de mão em mão e terminam sendo faturadas pelo valor de troca, rendendo os proventos da posse e não da produção.
Pg 162: “Instaurou-se no Brasil um verdadeiro efeito paralisante no que respeita à transição do ciclo mercantilista para o capitalismo, em especial na fase posterior à restauração e à expulsão dos holandeses”.
A repulsão à riqueza representa uma categoria ideológica de tanto significado quanto a de justiça social para o bolivarianismo.
Referências:
Walter Costa Porto – O voto no Brasil: da Colônia à 6a República; A mentirosa urna; Dicionário do voto.
Arsênio Eduardo Correa: A insurgência militar na política e o positivismo.
Richard Lynn – The Secret of Miracle Economy.
Ricardo Lopo Torres: A ideia da Liberdade no Estado Patrimonial e no Estado Fiscal.
Institute for de Study of Economic Culture.
“Economic Reform Today” de Washington.
Peter Berger – Univesity of Boston
Noli me tangere – nada me pode tocar...
Robert Graves – Eu Claudio, o Imperador.
Os Donos do Poder – Raimundo Faoro V2
Visconde de Ouro Preto – O advento da ditadura militar no Brasil – 1891. “Com que os ministros de sua majestade saciam nos seus amigos o apetite da tolice” pg 100
Nacos:
Aluir – abalar, oscilar, vacilar, prejudicar.
Janízaro – guarda-costas de um tirano.
Tricas e futricas.
Honorationem – compadrazzo
As indenizações como a organização social do suborno.
Tigre vegetariano
Política reptilícia
Galopim – cabo eleitoral, esbirro policial.
O impeachment é nosso recurso parlamentarista.
José de Castro Nunes – Do estado federado e sua organização municipal. 1920. O coronelismo municipal: “o governo mudou, mas eu não mudo: fico com o governo”. Ou mais esta pérola: “em política sou intransigente: voto com o governo”. Pg 253.
Pg 258, um depoimento hilariante sobre a caça ao voto em Cachoeira do Sul.
“A hora da agonia está próxima, silenciosa como todas as horas decisivas”.
Na pg 294 Faoro argumenta o erro de Rui Barbosa de transferir para o STF as virtudes do Poder Moderador do Império. E do fracasso constitucional derivado, servindo como uma advertência inútil à Constituição de 88 e ao fracasso institucional das 2 primeiras décadas do século XXI.
Só os livros limpam a alma das décadas de mistificação e mentiras. “O estado é o centro da economia, que a tutela e dirige” - Vargas pg 317
Referências:
José Gonçalves Salvador
1)Cristãos-novos, Jesuítas e Inquisição
2) Judeus e Cristãos Novos;
3)Povoamento e Conquista do Solo Brasileiro;
Sebastião da Rocha Pita – História da América Portuguesa, 1730.
Antonil – Cultura e Opulência no Brasil – 1711.
Feliciano de Souza Nunes;
1)Discursos político-morais;
2)Júbilos da América (1754)
Joseph L. Love: Rio Grande do Sul and brazilian regionalism.
Tavares Bastos – Cartas ao Solitário.
AZEVEDO, AMARAL – O estado autoritário e a realidade nacional – 1938
5/3/15
Sabe o que faz as pessoas irem as ruas? É a humilhação moral... Para alguém se dispor a trocar o tempo de lazer com a família pelo desejo de esbravejar contra um inimigo, é preciso ser alinhado por notícias como a de que Aécio foi perdoado de ser investigado na Lava Jato como uma concessão à oposição do colaboracionismo da mesma oposição. E no dia seguinte, receber a notícia de que Dilma é inculpável porque quem ocupa a presidência da república é inatingível pela ordenação jurídica, transformando a República em monarquia. Voltamos para a monarquia em menos de 25 horas, segundo os advogadões de porta do palácio. Tudo isso para encher as massas de indignação que irá explodir dia 15 de março! Hasta la vista baby!;
O niilismo se revela na obsessão pela pobreza pretendendo combatê-la.
Vinicius Viana — Dedé Mamata
Passeando pelos sebos de Florianópolis encontrei este livro bem sintomático de nosso momento histórico:
Dedé (apelido de André) cuida do avô demente e em fase terminal em um apartamento do Botafogo enquanto se desenrola a repressão da ditadura militar. O avô tinha sido um famoso advogado dos presos políticos do regime Vargas. Membro do PC o ap serviu de aparelho para abrigar Marighella durante uma passagem pelo Rio. Dedé é um adolescente que vive da pensão do vô e se recusa a estudar ou fazer qualquer coisa na vida, exceto ler autores marxistas e cheirar cocaína.
Trata-se, portanto, de uma novela que demonstra nossas raízes niilistas, sem que o autor perceba.
O niilismo surge de uma visão pessimista do presente que imobiliza as pessoas, mas que procura compensação com uma utopia. Age como uma predisposição do espírito humano para acreditar num futuro radiante que transcenda ao sujeito. Dedé chama a filosofia do cotidiano de um cocainômano de cartasianismo, termo derivado de catarse, como metáfora da excitação produzida pelo narcótico.
Ver pg 126. A imobilização pela preguiça primeiro e pelo niilismo depois fica patente na autojustificação para não frequentar a escola. “Eu nem assisti as primeiras aulas. A gente tenta, tenta, mas a marca registrada do país vem atrás” pg 121.
O niilismo consiste numa aversão a tudo que signifique diligência disciplinada e rotina determinada.
O trabalho é visto com horror (pg 134) mesmo quando as dificuldades financeiras rondam os personagens André e Alpino.
André transforma-se em traficante do Baixo Leblon e continua a ler O Capital e se pergunta o por quê? “Não sabia. Lia-o como o último reduto, a última esperança, o último sentido para a minha vida. Estranho. Um catarseano devorado pela sua própria filosofia (tão pretensiosa!), defendia-se no marxismo. E até esta, a maior das ideologias combativas, eu a transformava num requinte do meu materialismo” pg 180.
A justificativa para o comportamento desonesto é a crítica ao estado geral do país. Eis aí como a literatura nos fornece os elementos cruciais para entender um povo em uma época e sua preparação para a seguinte, triunfo do petismo que iria multiplicar exponencialmente os Dedés Mamatas.
Se existir uma escola de niilismo no país, este livro deve fazer parte do currículo.
[Os burros de José Agostinho de Macedo. Consegui via Wikipédia uns artigos de jornais de 1823 do frade Macedo. Era um satirista.]
Afonso Arinos de Melo Franco – Evolução da Crise Brasileira – 1965
Trata-se de um estudo sobre a crise do governo Jango escrito em artigos para o JB em 1963. Demonstra claramente o entendimento das forças atuantes no cenário populista e a luta da contraparte conservadora para manter as posições.
Pg 19 – Bem sei que o imoralismo e a corrupção são fatos sociais quase inseparáveis da inflação.
“Um dos prazeres da ociosidade é desvirtuar o pensamento alheio” pg 25. Afonso Arinos insiste na caracterização de uma “elite imobilista e privilegiada” como a principal responsável pelos nossos dilemas que se recusa às reformas essenciais e que se caracteriza por uma visão míope e reacionária do país.
Pg 49: Os porta-vozes do imobilismo privilegiado que rugem em lamentações e ameaças contra um perigo que se recusam a enfrentar, por egoísmo e por estupidez.
Na pgs 53 e 54 fala sobre os atos administrativos, as portarias, regulamentos, decretos, instruções e tantos mais. Toda uma infralegislação que desserve os propósitos do Parlamento e da atividade legislativa, pois trata da fonte de favores e privilégios.
Analisando o fascismo (integralismo) e o comunismo, A. Arinos fala na pg 79 que Getúlio em 37 escolheu a trilha crioula, a trilha nativa, para o tortuoso caminho de suas ambições. Ele quis dizer que o golpe de 37 foi aceito porque se voltara contra extremismos instalados na sociedade mas esqueceu de argumentar que as eleições previstas para 1938 haviam antecipado candidaturas liberais, tanto em SP como no Rio. No entanto, sua análise sobre a intuição de Vargas está correta.
O capítulo 14 merece ser resumido: pg 89.
Nas pags 109-110 fala de 2 variantes do plebiscito: “devemos distinguir o plebiscito como reminiscência da democracia direta dentro do nosso sistema representativo (e é como tal que ele existe na Constituição brasileira), do plebiscito como instrumento de ação violenta das minorias em facções que, apoiadas na força pública, preparam as massas pela propaganda e delas se servem para golpear as instituições constitucionais. No vocabulário do Direito Público, a palavra plebiscito, como a palavra democracia, é suscetível de tendenciosas interpretações”.
Pg 112 - “Como eu mesmo disse, quando do ponto de vista extemporâneo do pedido do estado de sítio para o regime democrático é melhor fechar um Congresso aberto do que manter aberto um Congresso fechado”.
Todo o capítulo 17 – O comício e o Senado deveria ser publicado. Pg 121: “... o conceito de liberdade na tradição anglo-saxônica, herdada pelos americanos, tinha um cunho principalmente prático e ligado à participação do cidadão nos encargos financeiros do Estado. O povo só era livre na medida em que concordava na formação dos tributos e fiscalizava sua aplicação”.
20/4/15
[A ausência de violência na presente crise brasileira pode causar estupefação aos seus seguidores na imprensa e redes sociais. Mas a principal causa desta avalanche de descobertas não ser acompanhada de execuções e assassinatos se deve muito mais a falta de credulidade nas palavras, quando elas revelam comprometimento de todo um grupo próximo ao poder, do que de passividade ou civilidade dos acusados].
Nacos:
Governo → autoridade e força.
Autoridade: consentimento, colaboração dos governados.
Força: na democracia é a imposição da lei.
As forças indenes (íntegras, ilesas).
Trapizonda – carraspana, bebedeira.
(probóscide fenomenológico – como Reinaldo Moraes chamava o próprio pênis.
Azevedo Lima — Reminiscências de um Carcomido
Vereador e depois deputado por diversas legislaturas, escreve suas memórias da agitação política que viveu nas duas primeiras décadas do século XX. Seu estilo erudito e cáustico tem um poder de argumentação extraordinário no julgamento dos atribulados anos que antecederam a revolução de 30.
Na pg 122 fala sobre a direita reacionária e sua luta contra o liberalismo nas palavras do deputado Hamilton Nogueira, que em seu livro “Doutrina da Ordem” acusa o liberalismo político com a causa do fracasso nacional a ponto de taxar: “democracia e ordem são termos absolutamente incompatíveis”. Este sentimento está presente na sociedade como resultado de nosso fracasso institucional e da falsificação secular da democracia.
Pesquisar São João Crisóstomo, o Boca de Ouro, … bizantino que advogava a igualdade econômica entre os homens. (Pesquisei na Wikipedia e descobri o fanatismo de SJC na luta contra o paganismo representado na celebração popular do teatro, dos jogos (competição de biga) e festas populares. O interessante disto tudo é perceber como as religiões se acabam e deixam suas tradições culturais. O paganismo deixou o teatro, o esporte e as festas, e a hoje constatada morte lenta do cristianismo por sua inadequação à sociedade high-tec deixa valiosos patrimônios culturais nas artes, especialmente na escultura, música, arquitetura e pintura, entre outros. O cristianismo só não tem sua morte mais acelerada porque está sendo usado como contenção ao islamismo, um perigo destrutivo somente comparável ao fanatismo cristão dos primeiros séculos. E também, porque nenhuma religião acaba per se, pois ela sempre precisa ser substituída por outra, e esta outra simplesmente não existe.)
Ver pg 123 onde defende a vida dos escravos nos ergástulos, já que propiciava a conquista do mérito cristão. Azevedo Lima chama esta ala do catolicismo de reacionária e intolerante. Sobre a imprensa venal pgs 124-125, “os possessos da psicose coletiva”
Em O Fim do Governo Bernardes desfila todas as desgraças nacionais do protecionismo. (pg 147 e sgts).
Nacos:
LAUDATOR TEMPORIS ACTI – aqueles que louvam os atos passados.
Sibaritismo – vida de luxo e prazeres.
Caganifâncias – coisa sem nenhum valor, insignificância.
Resipiscência política – reconhecimento da falta para emendá-la.
Tranquibérnias – fraude, trapaça, negócio de má-fé.
Êxule – desterrado, exilado.
Império da batota – trapaça
Candidato a fatacaz – grande naco, grande afeição por alguém ou alguma coisa.
Lambisqueiro – guloso
Politiqueiros da traquibérnia – trapaça.
Mechaneiro – intercessor alcoviteiro
A inópia intelectual
Sobre o sistema proporcional pgs 259-260
A independência dos poderes se reduz, em regra, ao mal dissimulado comércio de transigências inconfessáveis.
Roberto Simonsen — História Econômica do Brasil
Aborda o Brasil a partir da estrutura econômica implantada na exploração do território. Oferece uma grande quantidade de dados sobre a economia colonial e os ciclos de exploração, desde o pau brasil até a mineração.
É interessante notar que o litoral brasileiro foi explorado livremente por todas as nações europeias que aqui aportavam no sistema de pilhagem que era a forma como as riquezas naturais se ofereciam aos navegantes.
Impressiona os dados lançados por Roberto Simonsen. Desconheço outro livro com tantos dados estatísticos sobre a economia do período colonial até 1820.
Quanto a destruição da economia por parte de perseguições religiosas, ele cita apenas uma nota de rodapé em que procura desmistificar o preconceito contra os condenados portugueses que eram expatriados para o Brasil. Fala que eram casos de desobediência civil e também apostasia dos ritos religiosos que levava com que fossem deportados para o Brasil.
Na questão tributária, cita as pgs 177-181 os impostos pagos pelo transporte de tropas do Sul para Sorocaba e dali para Minas Gerais. Cada estado cobrando uma parte do tributo, o que seria uma das causas da revolução farroupilha.
Por outro lado, era a fonte de recursos dos governos estaduais para os investimentos em infraestrutura.
No imposto sobre o sal, por certo tempo proibido no século XVII para proteger as salinas portuguesas, chegou-se a impedir a sua extração por evaporação natural nas minas de Mossoró, Cabo Frio e Maranhão.
Com isso, RS dá uma pista sobre os custos altos de nossa economia, ao citar os contratadores, que eram os monopolizadores do direito de venda do sal, produto caro porque importado e que no Brasil era abundante. Os contratadores eram assim uma espécie de corretores que depois se formariam em toda atividade econômica.
Vale a observação de João Francisco Lisboa (Jornal de Timon) sobre o poder das Câmaras Municipais (pg 181) na determinação dos preços das mercadorias do comércio.
O imposto do sal de 720 réis o alqueire, foi acrescido de 160 réis, totalizando 880 réis o alqueire para subsidiar os governadores com honorários e soldos e mais 1 cruzado por alqueire para o Porto de Santos sustentar sua Guarda de Segurança, acarretando protestos da Câmara Municipal do RJ, indicando o quanto era prejudicial aos pobres o custo elevado do sal, obrigados a comer sem sal. E foi daí que se começou a comer canjica.
A carestia dos produtos e especialmente do sal em 1755: “Para elevar o preço dos gêneros importados adotou o expediente de trazê-los sempre em quantidades inferiores às necessidades do consumo. Daí a situação do Pará e Maranhão, onde faltou o azeite e se chegou a temperar os alimentos com açúcar à falta de sal” pg 182, citado de Lemos de Brito.
Vale a pena publicar as pgs 182-183.
1 alqueire = 13,33 litros.
Em 1723 os atravessadores compravam o sal a 1$280 em Santos e o vendiam a 4$800 a 6$400. “Somente em 1801 foi abolido o monopólio, caracterizado como vexatório e cruel como artigo de primeira necessidade”. Havia durado mais de 150 anos.
Pg 231 e sgts: Manoel Cardoso de Abreu, em seu Divertimento Admirável, dá um precioso depoimento sobre a situação da capitania paulista em 1780.
"Desta cidade (São Paulo) nasciam todas as estradas que vão para as capitanias diferentes, por cujas estradas está situada a maior porção das povoações, como são, por exemplo, as estradas que vão de SP para o Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde se acham estabelecidas as vilas de Mogi das Cruzes, Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Vila Nova de São Luís de Piratininga, as freguesias de Conceição e Cunha, e as aldeias de São Miguel, Escada e Nazaré, mas todas muito pobres e na maior parte miseráveis porque os seus efeitos, que são os mantimentos, apenas dão para vestirem e comerem o sal, vendendo uns na mesma cidade, e outros para o RJ, e também aos passageiros e desta forma nada pode … (alar?) aqueles moradores”.
A seguir lista os moradores de Jundiaí, Atibaia, Mogi-Mirim “também vivendo na mesma miséria”.
Nacos:
Foral
entrelopo
Bacurau – indivíduo que costuma sair somente à noite.
Zumbaia – saudação espalhafatosa, elogios interesseiros dirigidos a alguém a fim de obter favores.
Estanco – monopólio sobre um produto de forma legal. Ocorria no período colonial.
Conciliábulos –
O estro vingador
Afonso Arinos de Melo Franco – Um Estadista na República
Biografia de seu pai Afrânio de MF em 3 volumes condensados: o primeiro na política mineira; o segundo na política nacional; o terceiro na diplomacia. Me interessou vivamente o segundo volume, onde me detive na Revolta da Marinha sob o governo do mal. Hermes da Fonseca, largamente criticado por todos os grandes cronistas da história do Brasil. AA fala mais da história através dos debates no congresso – em cada episódio significativo da República Velha – do que da biografia de seu pai, o que torna o livro mais interessante já que maneja com muita destreza e habilidade a montanha de dados que utilizou.
Pgs 779-80 – A lei de meios, votada no torvelinho da questão das cartas falsas (carta forjada para denegrir Artur Bernardes e que teria sido a causa da revolução de 1922 com o episódio conhecido como os 18 do Forte), era uma das piores até então elaboradas pelo Congresso da República. Ainda não tinham sido adotadas as salutares inovações da reforma constitucional de 1926, sobre a elaboração orçamentária, e o orçamento daquele ano, sobretudo na parte referente à despesa, era um repositório das piores práticas vigentes no Brasil. Além de conter uma série de disposições políticas ou de legislação ordinária, rematava com um déficit correspondente a cerca de 35% da receita. Epitácio Pessoa no seu livro Pela Verdade resume o que era aquele monstrengo com o nome de orçamento. Obrigava o governo a nomear, sem concurso, funcionários para cargos que criava. Contava pelo dobro do tempo de outros; fazia reverter à ativa oficiais da reserva, com vantagens sobre os que não se tinham afastados das fileiras; contava tempo suplementar para certos quadros militares; nomeava para cargos inexistentes; enfim, o presidente enumerava, em páginas sucessivas, os maiores absurdos e loucuras. Uma vergonha para o Congresso. Além disso, como ele acentua, o orçamento era político pois, ao que dizia, estava “insidiosamente agravado, com o intuito de aumentar as dificuldades do governo e enfraquecer-lhe as resistências em face da ação dos partidários do Dr. Nilo Peçanha, para a conquista do poder”.
Pg 815: quando da desastrada intervenção de Bernardes no resultado das eleições no estado do Rio de Janeiro, Afonso Arinos argumenta que ao Congresso competia com exclusividade negar aprovação ao decreto de intervenção (restaurando consequentemente a autoridade de uma das facções locais que disputavam o poder) e, se o desejasse, promover o impeachment (sic em itálico) do Presidente da República.
O Supremo é que não tinha nada com o caso. Sua função se esgotara com a expedição do habeas corpus.
Nacos:
ESCARMENTO – lição aprendida dos fatos e da vida de experiência dolorosa. Castigo, punição. Repreensão, censura.
Tarasca – 1) boneco que representa um animal monstruoso, exibido no dia de Pentecostes em Tarascón. 2) Mulher de mau gênio e muito feia. 3) Espada velha enferrujada, chanfalho.
Serôdio – tardio, fora do tempo.
Embuçado no seu capote
Cirineu –
O general Hastínfilo -
Desfile escanifrado – descarnado, escanzelado, desajeitado.
Sobre Vargas, coincidindo com a análise de Afonso Henriques, escreve Afonso Arinos (pg 1099): “Neste caso mineiro de 1931 revela-se, em toda a plenitude, o jogo que Getúlio Vargas usou monótona e sistematicamente durante tantos anos, em todos os Estados, e sempre com invariável sucesso. O jogo de dividir, acirrar ambições, demorar infinitamente as soluções e, depois de ver todos gastos, fatigados, inermes, intervir com a decisão pessoal que é aceita com enfado, enjoo e desânimo, mas também, com certo alívio”.
Ao ler os 3 volumes de Um Estadista na República ficamos com a impressão que Afrânio tinha seu foco de interesses políticos na questão do Estado de Minas Gerais, uma vez que seu desempenho nacional sempre esteve ligado mais as questões constitucionais e jurídicas, e sobretudo, de diplomacia, do que de política nacional.
Considerando que sua época foi a da política dos governadores, como se chama a Primeira República, ou República Velha, percebe-se a fragilidade de seu pensamento para resolver a questão das rivalidades regionais, o que explica a adesão a Getúlio na esperança de renovação da revolução de 30.
Mas AA não foi capaz de traduzir a desilusão de seu pai em manifestações políticas da época. Em derradeiras palavras, Afrânio não foi capaz de propor nada politicamente para a agregação nacional em sua época. Os juristas se escondem nas doutrinas do direito por impotência para propor soluções políticas. E Afrânio foi um príncipe em seu arquipélago.
AA tenta mostrar Afrânio, seu pai, como um homem capaz de manter a neutralidade dentro do Estado Novo, mesmo servindo ao governo Vargas em missões internacionais, como a Conferência de Lima de 1938. Isto é duvidoso, e deixa o leitor com a suspeita de maquiagem. Ademais, AA sempre se refere a seu pai como grande figura intelectual, não obstante, não ter deixado nenhuma obra significativa.
Neste intervalo escrevi sobre o fatídico 18 de dezembro de 2015.
O que aconteceu hoje? Assistimos estarrecidos um debate no STF resultar em uma invenção que exorbita as leis e subjuga o Legislativo à sua vontade. Frequentemente, ações de partidos nanicos, quase sempre sem qualquer vínculo com a democracia – porém apenas construções aberrantes de uma libertinagem partidária – são capazes de alterar as leis, inventar firulas jurídicas por parte de excelências que não se envergonham dos cidadãos ilustrados deste país que sabem ler textos e não podem ver em eminentes figuras togadas senão o propósito de jogar poeira na visibilidade das leis, de promover a nebulosidade querelante em matéria interpretativa como tem sido uma característica incorrigível da travestida magistratura que desde a Primeira República tem servido de advocacia de interesses menores e subalternos ao sórdido jogo político, mas consabidos no âmbito da proteção de figuras governamentais repulsivas a qualquer parâmetro moral de governança.
Nossos cronistas políticos têm sidos incansáveis na qualificação de fatos vergonhosos provenientes da magistratura e, no entanto, isso não se encerra nunca. Como se nada do que estivesse em jogo no governo Dilma interessasse ao processo em pauta, a maioria do STF se arroga o direito de dizer – mais uma vez – que a lei é o que eles querem e não o que se lê: que a lei é aquilo que eles vitaminam como casuísmo e não o que se espera de uma corte honrada.
Anotem aí este fatídico 17 de dezembro de 2015. Quem viveu não vai esquecer o conluio do STF com um governo que se caracterizou por conseguir o Guiness de corrupção em todos os tempos da história humana. Nossa desgraça não provém apenas do Executivo. Os crimes que começaram com o Mensalão e desaguaram na Lava Jato não estão afeitos exclusivamente ao executivo.
Ultrapassaram todo o tecido social e hoje são exercidos através do controle da imprensa – não por meio de um marco regulatório – porém por propinas distribuídas diretamente para próceres da mídia propagar como fracasso o sucesso das manifestações, diminuir o papel das oposições nas ruas, e enaltecer descaradamente a mercenária adesão dos mortadelantes nas manifestações governamentais.
Agora sabemos que existe uma corrupção de proporções de uma Lava Jato na imprensa, e neste caso não podemos mais conter o ímpeto de denunciar que a ordem legal se aproxima do fim, que o 17 de dezembro foi um golpe sem precedentes na ordem Constitucional.
O STF conseguiu oxigenar a fogueira da crise. Daqui para a frente veremos o país se dividir em duas facções: os honrados na oposição e a canalhocracia no lado do establishment. Não se esqueçam canalhas que cobraremos a fatura “quando llegue la ocasión”. Vocês não sabem governar! Vocês não sabem produzir riquezas! Vocês não sabem a conveniência da honra! Vocês não conhecem os benefícios da verdade! Vocês não têm futuro na produção de conhecimento! Vocês não representam o que há de melhor no nosso tempo! Vocês são a escória humana possessa de uma psicose coletiva que conduziu o país ao fracasso. Lutamos para evitar as consequências do desastre anunciado por tudo o que vocês representam. Ainda não conseguimos expulsá-los do poder. Mas vocês não poderão escapar da crise que criaram. E ela será capaz de forjar os seus próprios algozes. E é com eles que haveremos de triunfar.
Norberto Bobbio — O Futuro da Democracia – PAZ E TERRA – 1986
Pg 26: O preço que se deve pagar pelo empenho de poucos é frequentemente a indiferença de muitos. Nada ameaça mais matar a democracia que o excesso de democracia. [serve como crítica ao participacionismo]
Pg 51: Ao lado da necessidade de autogoverno existe o desejo de não ser de fato governado e de ser deixado em paz...
O voto de opinião x o voto de interesse:
Pg 86: Repete: nada ameaça mais matar a democracia que o excesso de democracia.
Referências:
MacPherson – A vida e os tempos da democracia liberal.
Alan Wolfe – Os limites da legitimidade – The limits of legitimacy
Pg 33: Tocqueville em discurso na Câmara dos Deputados em 27/1/1848 lamentava que “opiniões, sentimentos e ideias comuns são cada vez mais substituídos pelos interesses particulares”, e perguntava: “se quem vota na base da opinião política não havia diminuído em relação aos que votam por interesses pessoais” que constituiria uma expressão de uma “moral baixa e vulgar”.
Burocratização e aumento do aparato
Pg 35: Quando os proprietários eram os únicos que tinham direito ao voto, o poder público se encarregava da proteção da propriedade. Quando o voto foi estendido aos analfabetos, o estado teve que se encarregar da instrução pública. Quando o voto foi estendido aos trabalhadores, surge a proteção ao desemprego, depois assistência médica, aposentadoria, etc.
Minha proposta é que em uma reforma do estado, cada indivíduo tenha uma conta referência, onde suas despesas são lançadas como contabilidade de sua própria assistência e aposentadoria.
Herbert R. Lottman – The Left Bank
A margem esquerda do Sena foi o reduto intelectual mais importante da Europa na primera metade do século. A febre socialista e sua sucessão de erros, a fé na revolução soviética, a hegemonia intelectual da esquerda, foram admiravelmente descritas por Lottman em uma sucessão de fatos muitos dos quais eu já conhecia, mas não encadeados em uma única obra.
As pessoas interessadas na decadência espiritual francesa não podem deixar de ler este livro. Enquanto os meios diplomáticos se esforçavam para elevar a França a um país de vanguarda cultural, difundindo sua cultura através de seus expoentes, uma mentalidade servil e fetichista crescia indetível naquela que foi a capital das letras e a promotora das artes durante décadas. Não são poucos os franceses que viram (e viveram) a tragédia do socialismo na Margem Esquerda do Sena. Aron, Revel, Camus, Jouvenel e tantos outros focaram suas críticas na esquerda francesa e, mais especificamente, no fetiche do estatismo. Isto não impediu com que a França se tornasse um país secundário na grande revolução tecnológica dos últimos 30 anos.
Parlor intelectual = intelectual de gabinete.
Pgs 24-25. Declarações de Gide em apoio a URSS (antes do seu célebre discurso de desilusão com a Rússia). O Congresso dos Escritores Contra a Guerra em Amsterdan
Pg 40 – Arthur Koestler tenta o suicídio em Paris em 1933. Os exilados (alemães, etc) não eram recebidos nos salões parisienses e sentiam a sociedade fechada para seus talentos.
Pg 47: nos anos 30, a principal preocupação dos escritores franceses era a questão externa, a ameaça fascista da Espanha, o comunismo, etc. Não havia confronto com questões políticas internas em relação ao governo.
Pg 52: O congresso de Amsterdan e Munzemberg, a eminência parda.
Pg 55: Mais sobre Munzemberg.
Pg 72: Victor Serge → Salvemini cria uma voz dissonante no Congresso.
Pg 93: O Congresso se divide entre trotskistas e stalinistas e Victor Serge é insultado por Malraux. Pg 94: Magdeleine Paz tenta falar sobre o caso Malraux e é vaiada.
Pg 112-113: Descreve a viagem de Gide à Rússia em que insatisfeito com a repressão sexual na URSS contra os homossexuais, é convidado a tomar banho em uma piscina cheia de garotos bonitos, os quais descobre serem soldados do exército vermelho. E ele não desconfiou que aquilo tinha sido um arranjo do regime para agradá-lo.
Uma das anedotas que ele contou da viagem refere-se às bandeiras de boas-vindas que era exibida por populares em cada estação de trem. Desconfiando que fossem sempre as mesmas, terminou descobrindo que as bandeiras viajavam no mesmo trem dele.
Pg 121: Em novo Congresso da Associação Internacional de Escritores de 1938, a delegação soviética mandou um telegrama de desculpas por não poder participar, já que os escritores estavam naquele momento de férias ou em viagem. Mas de fato estavam nos campos de concentração.
Pg 134: Morte de Munzemberg, ao ser liberado de um campo de detenção.
Pg 165: Everibody Collaborated. Importante capítulo sobre a ambiguidade da vida sob a ocupação.
Pg 167: Simone de Beauvoir e Sartre durante a ocupação.
Pg 170: A tentativa do PCF de editar o L'Humanité legalmente na França ocupada devido ao pacto germano-soviético, o maior fiasco da época.
Pg 193: Novamente Sartre durante a ocupação.
Pg 201: Picasso passando bem durante a ocupação.
Pg 246 – Jorge Amado em Paris com Pablo Neruda no pós-guerra conhecido por suas “novelas cômicas”. “Amado was not a café-goer, nor a man of literary teas”.
Vivendo em um castelo na Checoslováquia durante 2 anos, ele escreveu uma novela épica (Os Subterrâneos da Liberdade) sobre o fascismo brasileiro pré-guerra.
Pg 260: Menciona a teoria dos fins que justificam os meios, isto é, o assassinato justificado. A propósito de um artigo de Camus chamado Nem Vítimas Nem Carrascos.
Pg 266: O caso Kravchenko. Bem explicado e coerente.
Fernando Pedreira – A Liberdade e a Ostra – Nova Fronteira 1976
Pg 21: O que hoje temos, 40 anos depois (dos anos 30) é uma espécie de sopa juliana feita com os restos desses ingredientes ideológicos que se pode servir mais ou menos ao gosto de cada um.
Pg 23: Sobre o AI-5 e a abertura de Geisel em 1975. A “abertura” significa que o país pode manifestar-se sobre determinados temas, pode discuti-los, pode queixar-se e pode até criticar com severidade, mas não decidir. Quem decide nem sequer é um caudilho falando em nome do povo, ou algum conselho de notáveis: quem decide é a burocracia simplesmente.
Pg 32: Falando que não existe nenhuma chance para a evolução do Estado Burocrático para o Estado Democrático, cita a possibilidade do retorno ao populismo paternalista que seria implantado pela corrupção, censura e ACOELHAMENTO geral dos cidadãos.
Em a geração sartriana de 1959-60 fala da revolução cubana e da comoção causada em todo mundo antes de Castro declarar-se comunista. Pgs 46-47. Escanear para servir de prólogo ao artigo de Cabrera Infante.
Pg 75: O totalitarismo é uma religião do estado, uma ideologia oficial exclusiva que suprime todas as outras e que procura abranger todos os campos da atividade humana. Nenhum regime autoritário evolui para o totalitário mas é possível que por um fenômeno de degradação o totalitarismo venha a se transformar em autoritarismo.
Pg 102: cita Otto Lara Resende para quem o regime era o da pílula anticonstitucional.
Pg 110: A tendência dos governantes e tecnocratas costuma ser, entretanto, muito outra. Nos bons momentos, como ocorreu entre 1968-74, eles se inclinaram a crer que a abundância é antes de mais nada fruto de sua política, de sua clarividência, de seu talento. Isto nos leva a supor que o período favorável pode ser estendido mais ou menos indefinidamente, desde que eles permaneçam no governo, ou sejam sucedidos por outros administradores igualmente talentosos e bem intencionados.
Pg 111: O desencontro entre a curva dos ciclos econômicos e a linha da evolução política.
Ersatz. - substituto, imitação de um produto por outro inferior.
Ivan Lessa – Garotos da Fuzarca – CIA DAS LETRAS, 1987.
Ivan Lessa seguiu as pegadas de Antonio Callado e foi ser correspondente da BBC em Londres na seção brasileira na época da ditadura. Era celebrado por suas críticas ácidas no Pasquim contra quem quer que fosse. Foi um dos principais debochadores de nosso Bananal (a expressão surgiu com ele), e mesmo fora do país, continuou seu papel de satirista até que na década seguinte desapareceu, para reaparecer por um editor que fez um apanhado de seus textos. Teve grandes admiradores no Brasil (menos eu), mas por muito tempo foi cobrado para que escrevesse um romance sobre nossos Bananal o que nunca fez por reconhecida preguiça intelectual.
Anglicísmico (neologismo meu)
Nada a anotar ou acrescentar – lido em dois fôlegos em 17-18/9/2013.
Milton Hatoum – Cinzas do Norte – Cia das Letras – 2005
Ticando peixes na cozinha
Até a pg 54 é um amontoado confuso de personagens. Quando está construindo um personagem, que parece que vai assumir a incorporação literária de carne e osso com sua psiquê du rôle, introduz um outro, e mais outro, pulando da miséria para a opulência sem pé nem cabeça. Então descobrimos que estamos num intertexto sem nenhum humor, sem nada de espirituoso, mas tudo conforme a linha narrativa do esconde-esconde que deixa o leitor sufocado no emaranhado amazônico de um texto sem graça, transporejando banalidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é bem-vindo.